sábado, 31 de março de 2012

Corte nas ajudas técnicas “condena milhares” de deficientes a não terem uma vida activa

A Associação Portuguesa de Deficientes acusa o Governo de “condenar milhares de cidadãos” a não poderem ter uma vida activa e produtiva, ao ter cortado em mais de 30% (quase quatro milhões de euros) o valor do financiamento em 2012 para ajudas técnicas. 

Para o presidente da APD, esta redução no valor atribuído para a concessão de ajudas técnicas “é intolerável do ponto de vista social”.

“Significa condenar milhares de cidadãos a não poderem deslocar-se, ouvir, ler, em resumo, ter uma vida activa e produtiva, porque não vão ter acesso, por exemplo, a cadeiras de rodas, próteses auditivas ou software de leitura”, diz a APD.

Contactado pela Lusa, o Ministério da Solidariedade e Segurança Social (MSSS) esclarece que o valor definido para 2012, de cerca de 8,3 milhões de euros, “pode vir a ser reforçado ao longo do corrente ano, caso se justifique e venha a ser devidamente fundamentado pelas entidades”. 

Num despacho publicado em Diário da República a 9 de Março, é definido que o valor para financiamento de ajudas técnicas durante o ano de 2012 é de 8.301.820 euros. Em 2011, estes produtos tiveram direito a um financiamento de 12.154.091 euros, o que representa um decréscimo de 3.852.271 euros, menos 31,7%.

Atrasos em 2011 na origem do corte

Na opinião da APD, trata-se de uma “redução substancial” no valor definido para as ajudas técnicas, realçando ter conhecimento de que “muitas pessoas não conseguiram receber em tempo útil estas ajudas técnicas” durante o ano de 2011.

“Por razões de entropia de funcionamento das entidades que prescrevem ou por razões meramente administrativas, é anunciado que há um valor que não foi atribuído, não foi prescrito, e como não foi prescrito no ano passado, o que se fez foi reduzir o orçamento para este ano”, criticou Humberto Santos, referindo-se à passagem de cerca de 12 milhões em 2011 para perto de oito milhões de euros em 2012.

Segundo o presidente da APD, o Governo não teve a preocupação de tentar perceber por que é que em 2011 sobrou dinheiro, tomando por opção reduzir o valor destinado a estas ajudas, e alertou que isso vai significar que muitas das pessoas que em 2011 não conseguiram aceder a estas ajudas também não o consigam em 2012.

“Conhecemos quem tenha de se endividar para conseguir aceder a estas ajudas técnicas”, alertou Humberto Santos. E explicou que muitas vezes as pessoas com deficiência não têm forma de aceder através do Serviço Nacional de Saúde a estas verbas porque, quando chegam às respectivas entidades prescritoras, ou a verba está esgotada ou, por outro motivo, vêem ser-lhes “vedado o acesso a este bem fundamental”.

Relativamente ao facto de o despacho para as verbas atribuídas em 2011 só ter sido publicado em 21 de Dezembro do mesmo ano, Humberto Santos apontou que ter “instituições a funcionar sem orçamento real não é um processo saudável”.

Em resposta, o MSSS salienta que “pela primeira vez há um valor definido e um eventual reforço, caso se justifique”, e que igualmente pela primeira vez “existe um plano de combate à fraude para que impere uma maior justiça na atribuição destas ajudas técnicas”.

O ministério refere que a verba global é fixada anualmente por despacho conjunto dos membros do Governo responsáveis pela Segurança Social, Emprego e Saúde, e que esse despacho não chegou a ser publicado nos anos de 2010 e 2011.

De acordo com o Ministério da Solidariedade e Segurança Social, foi por causa dessa ausência de verba que o actual Governo “regularizou” a situação através da publicação do despacho de Dezembro, no qual é definida a verba de cerca de 12 milhões para as ajudas técnicas durante o ano de 2011.

Fonte: Público

Crianças com problemas de sono tendem a tornar-se hiperactivas

Estudo de 11 mil crianças, seguidas durante seis anos, revela consequências de perturbações respiratórias no cérebro.

As crianças que ressonam, dormem de boa aberta e sofrem de apneia durante o sono correm mais riscos de se tornarem agressivas e hiperactivas. Um estudo desenvolvido junto de 11 mil crianças, que foram seguidas durante mais de seis anos, concluiu que tais sintomas podem influenciar negativamente o desenvolvimento do cérebro, ou seja, não devem ser negligenciados. 

"Tanto os pais como os pediatras devem prestar mais atenção às irregularidades respiratórias durante o sono nas crianças pequenas, talvez mesmo durante o primeiro ano de vida", alertou Karen Bonuck, co-autora do estudo e investigadora no Albert Einstein College of Medicina da Yeshiva University, de Nova Iorque. Se nada for feito, concluem os autores do estudo publicado agora na revista norte-americana US Journal Pediatrics, as crianças têm entre 40 a 100% de probabilidades acrescidas de, por volta dos sete anos, se tornarem hiperactivas, ansiosas, deprimidas e com sérias dificuldades na interacção com os amigos. "Apesar de ser um problema muito comum, os pediatras e os médicos de família raramente lhe dão a atenção devida", insiste Karen Bonuck. "Na maior parte dos casos, os médicos limitam-se a perguntar "Como é que o seu filho dorme?", em vez de perguntarem especificamente sobre cada um dos sintomas." 

Um peso abaixo da média é outra das consequências comuns nestas crianças, cujo sono não é profundo o suficiente para que produzam as chamadas "hormonas do crescimento". 

As desordens respiratórias do sono ocorrem mais frequentemente entre os dois e os seis anos de idade, mas podem começar mais cedo. "Cerca de 10% das crianças ressonam por sistema, devido ao aumento significativo do volume dos adenóides, muito frequente entre os dois e os quatro anos", especificou ao PÚBLICO o pediatra Mário Cordeiro. "Quando a criança se deita, os adenóides e as amígdalas "caem", encurtando o espaço respiratório na rino e oro-faringe", prossegue o especialista, para acrescentar que, "em consequência, o ar tem maior dificuldade em passar quando entra pelo nariz". Logo, "a criança respira pela boca, fazendo um som mais intenso: o ressonar". 

Estes sintomas, ou seja, a má ventilação, também podem derivar de desvios no septo nasal. Em ambos os casos, quando a obstrução respiratória é grande, "os níveis de oxigénio começam a descer e os de dióxido de carbono a aumentar, fazendo com que a dada altura o centro respiratório "mande" a criança acordar para retomar a respiração - são as chamadas "apneias". Para Mário Cordeiro, "quando o grau de obstrução é tão grande que chega à apneia do sono, em que a criança deixa por momentos de respirar, isto poderá ser um motivo suficientemente forte para considerar extrair os adenóides". 

Esta "dança" entre o sono profundo e o superficial impede o descanso da criança, fazendo com que esta acorde com a sensação de noite mal dormida. Em resultado, a criança tende a mostrar-se sonolenta durante o dia e, consequentemente, mais irritadiça, birrenta e com défice de atenção e de concentração. A impaciência e a conflitualidade com os colegas vêm a seguir, o que "prejudica a relação social e escolar, bem como o processo de aprendizagem", acentua ainda Mário Cordeiro. "Acresce que o fácies da criança, com a boca semiaberta (porque respira pela boca) e não ouvindo bem, contribui para que seja rotulada de "estúpida" e alvo de troça dos colegas, o que aumenta a agressividade e o sentimento de injustiça".

Fonte: Publico

Portugal veste-se de azul pelo autismo

Este fim-de-semana, Portugal junta-se ao resto do mundo para assinalar o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. O Porto é a cidade que participa com mais força no Light it up Blue e vai iluminar de azul oito dos seus edifícios.


Durante este fim-de-semana, o país veste-se de azul para celebrar o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. De norte a sul do país, várias câmaras municipais aderiram ao Light it Up Blue, um evento à escala internacional que promove, através do ato simbólico de iluminar monumentos com a cor azul, a sensibilização do público para a problemática do autismo.


A campanha surgiu em 2007 e já iluminou monumentos como o Empire State Builing, em Nova Iorque, e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. No ano passado, teve uma tímida adesão em Portugal, com a iluminação de apenas dois monumentos: a torre dos Clérigos, no Porto, e o Cristo Rei, em Almada.

Susana Silva, presidente da Vencer Autismo, associação que trouxe para Portugal a iniciativa, explicou, ao JN, que "no ano passado foi a primeira vez que Portugal aderiu".

Para a presidente da associação, a edição de 2011 foi importante porque serviu para os portugueses começarem "a acordar para a causa do autismo". Este ano, "há um envolvimento muito maior" em todo o país, que está a colaborar na causa de uma forma muito mais clara.

Fonte: JN

quinta-feira, 22 de março de 2012

Estaria longe de imaginar que em tão pouco tempo iria ver atingir as 10000 visitas.

Muito Obrigada a todos 
os que por aqui passam!!

terça-feira, 20 de março de 2012

Concurso "Cartaz 3 de Dezembro de 2012/ Dia Internacional das Pessoas com Deficiência"

O Instituto Nacional para a Reabilitação, IP, vai lançar a 5ª edição do concurso Concurso "Cartaz 3 de Dezembro / Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, no valor de 500 euros (regulamento).

Este concurso tem por objectivo premiar o trabalho gráfico que melhor represente a mensagem subjacente à comemoração deste dia, nomeadamente celebrar os direitos humanos das pessoas com deficiência e sensibilizar a sociedade para combater os preconceitos e os obstáculos que impedem estes cidadãos de exercer os seus direitos e participar activamente em todos os aspectos da vida política, social, económica, cultural e artística.

Com esta iniciativa pretende-se igualmente envolver todos os cidadãos, de todas as idades, em grupo ou individualmente, na sensibilização para os direitos da igualdade de oportunidades e não-discriminação das pessoas com deficiência.

O cartaz vencedor servirá para promover a campanha relativa à comemoração, a nível nacional, do dia 3 de Dezembro / Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

Vencedores de anos anteriores

Dia Internacional da Síndrome de Down

O Dia Internacional da Síndrome de Down foi proposto pela Down Syndrome International como o dia 21 de Março, porque esta data se escreve como 21/3 (ou 3-21), o que faz alusão à trissomia do 21. A primeira comemoração da data foi em 2006.

Todos os dias são dias para se celebrar e falar do assunto, mas este dia serve acima de tudo para chamar a atenção de TODOS, para a importância da sociedade abrir as portas às pessoas portadoras de Trissomia 21, encará-las com o respeito, naturalidade e solidariedade que lhes é devido, dando-lhes oportunidades de igualdade, proporcionando-lhes igualdade de oportunidades.

As pessoas com Trissomia 21 têm limitações é certo, mas também como qualquer pessoa portadora de uma outra doença e/ou deficiência qualquer ,têm o direito a ter o seu lugar ativo na sociedade e poder assim contribuir ativamente para o desenvolvimento da mesma.

E porque o “caminho faz-se caminhando”, cabe-nos a nós educadores e não só mostrar-vos que tal integração é possível, desde que sejam precocemente apoiados e estimulados. Cabe-nos a nós mostrar-vos, com provas dadas, que estes apoios são imperativos, prioritários e urgentes consolidar e disponibilizar com técnicos credenciados na área a quem deles tanto precisa. 

E porque Portugal não é Lisboa, Faro e Porto, na paisagem vivem comunidades, onde há crianças e jovens cheios de potencialidades que aguardam por esta ajuda, este empurrãozinho, para chegarem o mais perto possível, ou tanto quanto possível às mesmas metas que as restantes crianças.

Cabe-nos a nós fazer a nossa parte, trilhar caminhos, mostrar a quem de direito, a VÓS, que o caminho para o futuro, para um futuro melhor, passa também pelos caminhos da Trissomia 21 e de tantas outras deficiências, que sendo limitativas, não são de todo incapacitantes.

Olhem para os rostos, contagiem-se pelos sorrisos, olhem bem no olhar deles e vejam para além do que a visão consegue alcançar. Diferentes e especiais são estas crianças, e mesmo com a Trissomia estampada no rosto, vêem o mundo da mesma forma que nós, sentem-no, vivem-no tal qual nós o fazemos, têm apenas que ter um empurrãozinho a mais que os outros. 

sábado, 10 de março de 2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

Orientações Gerais para Alunos com Necessidades Educativas Especiais - Provas Finais de Ciclo do Ensino Básico 2012












Destaca-se deste documento (leitura feita pelo colega Incluso e com a qual corruboro):

Os alunos que frequentam um currículo específico individual, ao abrigo do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 3/2008, estão dispensados da realização das provas finais dos 6.º e 9.º anos de escolaridade, de acordo com o estipulado na alínea c) no n.º 43.1 do Despacho Normativo n.º 14/2011, de 18 de novembro.



Apenas em casos muito excecionaisos alunos cegos, com baixa visão, surdos severos ou profundos ou com limitações motoras severas que, relativamente à prova caracterizada na Informação-Prova final da responsabilidade do GAVE, necessitem de alterações nos instrumentos de avaliação ao nível da estrutura das provas e na tipologia e formulação dos itens, podem realizar provas finais a nível de escola nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática.



Excecionalmente em 2011/2012, os alunos do 3.º ciclo com necessidades educativas especiais de carácter permanente do domínio cognitivo e com necessidades especiais de saúde decorrentes de situações clínicas graves que, ao longo do seu percurso educativo, tenham tido, ao abrigo dos artigos 18.º e 20.º do Decreto-Lei n.º 3/2008, adequações curriculares individuais com adequações no processo de avaliação nas disciplinas de Língua Portuguesa e ou Matemática, constantes do seu programa educativo individual, podem realizar provas finais a nível de escola para conclusão do 3.º ciclo, sob proposta do conselho de turma.
Nestes casos as provas finais a nível de escola de Língua Portuguesa e ou de Matemática devem ser assinaladas no ponto 6.11 do ANEXO I-EB.

Foi publicada, também, a MENSAGEM N.º 4/JNE/2012 de 02/03/2012 relativa ao prazo de envio dos processos relativos a alunos com necessidades educativas especiais

ENSINO SECUNDÁRIO
Tendo em conta que o Júri Nacional de Exames decidiu prorrogar o prazo normal de inscrições para a 1.ª fase dos exames finais nacionais até ao dia 9 de março de 2012, informa-se que o envio para o JNE dos processos relativos aos alunos com necessidades educativas especiais também pode ocorrer até três úteis após a data referida.

ENSINO BÁSICO
Relembramos que, relativamente aos alunos com necessidades educativas especiais do ensino básico apenas as situações mencionadas no ponto dois da Mensagem n.º 1/JNE/2012, ou seja, alunos cegos, com baixa visão, surdos severos ou profundos, ou com limitações motoras severas, para os quais são requeridas provas finais a nível de escola nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática dos 6.º e 9.º anos de escolaridade, devem ser os respetivos processos ser remetidos à Presidência do JNE até 7 de março de 2012 para despacho de autorização.

"Clarinha, a menina especial capaz de me ler a alma" por Manuela Cunha Pereira

Comprei imensos materiais atrativos para despertar a tua atenção, mas tu recusavas-te a trabalhar. Ficavas hilariante quando eu o fazia por ti! Sempre gostaste de "mandar" numa tentativa de imitação do adulto. Mas depois, cansavas-te e voltavas para o teu "canto" sempre deitada.


Foi em setembro que te conheci, Clarinha!

Conheci-te numa quinta-feira.

Estudado o teu processo, verifiquei que tinhas a síndrome do "Crie du chat" uma síndrome rara e de baixa frequência a nível nacional.

Antes de te conhecer melhor, falei com a mãe Lúcia. Fiquei fascinada com o orgulho com que ela falou de ti e com perfeita consciência da tua sintomatologia.

Quando cheguei à tua escola (eu fazia o território), estavas tu deitada ao fundo da sala com uma manta velha por cima. Nas tuas mãos tinhas imensas páginas de revistas. Não para as leres com é óbvio, porque ainda hoje não sabes ler, mas porque faz parte de uma das particularidades da tua sintomatologia andar sempre com algo na mão desde panos, folhas, revistas...

Recordo-me que não falavas, emitias sons e gestos que traduziam as oscilações do teu estado de espírito.

A professora da turma do ensino regular de então utilizou todas as estratégias possíveis para a tua aprendizagem. Todavia, como estiveste tantos anos habituada a estar deitada, era muito difícil contrariar os teus hábitos. Por vezes, lá te levantavas, percorrias a sala e apropriavas-te, inocentemente, dos materiais dos teus colegas.

Durante este ano, nunca tive o apoio de uma auxiliar. Contigo, Clarinha, foi tudo mais difícil. Tinha de tratar da tua higiene diária, mudar-te a roupa quando fazias chichi. Confesso que me custou muito, principalmente tratar da tua higiene pessoal. Só o tinha feito com a minha filha. Porém, à medida que me fui afeiçoando a ti, esta tarefa foi-se transformando numa cumplicidade ainda maior entre nós.

Antes desta conquista entre nós, as perguntas habituais assolavam novamente a minha mente.

Como chegar à ti, Clarinha? Como te cativar?

Comprei imensos materiais atrativos para despertar a tua atenção, mas tu recusavas-te a trabalhar. Ficavas hilariante quando eu o fazia por ti! Sempre gostaste de "mandar" numa tentativa de imitação do adulto. Mas depois, cansavas-te e voltavas para o teu "canto" sempre deitada. 

A minha forma de ser e até mesmo a minha experiência diziam-me que "era pelos afetos...". Contudo, o tempo passava e debatia-me com a impotência de não ser capaz. Sabes, Clarinha? Não conseguia sentir-me à tua altura, achava que estava a falhar, daí o meu investimento pessoal em tantos materiais... tu escapavas-me! Até "àquele dia".

Lembras-te, meu anjo (gosto muito de vos tratar por anjos, porque em boa verdade é aquilo que vocês são!)

Naquele dia, naquela quinta-feira, passei a deitar-me contigo. Senti-me tão "estranha", porque estávamos as duas em plena sala de aulas do 4.º ano com a tua professora e com os teus "amiguinhos" que não paravam de olhar para mim completamente desconfiados. Posso dizer-te que foi mesmo constrangedor, mas passou... o importante foi ter-te cativado e tu a mim, tal e qual como na história do "Principezinho"!

Passei muitas horas deitada contigo, Clarinha, mas foi nesta nossa proximidade afetiva que construímos, até hoje, a nossa cumplicidade que só os anjos entendem.

Nesses momentos, os meus pensamentos turbilhonavam para te tentar arranjar estratégias que te interessassem. Enquanto pensava, falava sempre contigo, muito, muito baixinho para não perturbar a aula da tua turma. Contava-te histórias quase todas elas inventadas no momento, isto porque até as histórias mais infantis dos livros eram muito complexas para ti. E nas histórias que te contava, tu eras sempre a protagonista. Eram sempre centradas em ti e na tua família, área que tu dominavas muito bem. Sempre que falava ou de ti, ou da mãe, do pai ou da tua mana, tu batias muitas palmas como forma de reconhecimento das personagens. Aprendi, assim, a ler, através dos teus sons e do teu gesticular aquilo que realmente te fazia feliz. 

Nos dias de sol, levava-te para o recreio para passearmos, exercitando, assim, o teu andar e o teu equilíbrio. Na hora do lanche, cantava-te cantilenas muito, mas muito fáceis de aprender e muito lentamente começaste a "cantar". No baloiço que adoravas, cantávamos muito alto para mostrar ao mundo a tua/nossa verdadeira felicidade.

Todavia isto só acontecia às quintas-feiras de manhã. Quando voltava na semana seguinte, lá estavas tu deitada. Ficava desolada ao ver-te assim e pensar que todos os outros dias eram assim. Mas mal me vias, ficavas eufórica.

Eu precisava mais de ti, Clarinha, era impossível continuares assim. Falei com os teus pais e fiz-lhes uma proposta que eles acalentaram de imediato. Essa proposta passaria pela sua autorização para frequentares a minha sala especial, na sede do agrupamento. Falei com o presidente do Conselho Executivo, que se mostrou logo recetivo. Contigo veio a Katy - a auxiliar- mas só às quintas-feiras. A Katy, que ainda hoje, felizmente, trabalha connosco, é daquelas pessoas raras que parecem ter nascido para acalentar estes, agora nossos, meninos.

Ao fim de poucos meses, a tua evolução, Clarinha, espantou tudo e todos. Os teus pais nem queriam acreditar. Começaste a desenvolver a linguagem, o equilíbrio, as regras de bom comportamento e aprendeste muito com os outros meninos através da imitação e da troca constante de gestos de ternura. Mas trabalhar... não era contigo, minha malandreca!

Gostavas de me imitar enquanto professora e eu, aproveitando essa área, nomeei-te Professora Clara.

Hoje feliz, já pedes para ir à casa de banho, já não te babas porque a professora Manuela não gosta, já andas, já te equilibras e continuas com a tua tarefa de Professora.

O que mais me impressiona em ti, minha querida, é a tua forte capacidade de ler os sentimentos das pessoas. Sendo eu uma pessoa como outra qualquer, há dias que estou mais triste, mas quem me conhece sabe que raramente o demonstro. Só tu... Só tu, Clarinha, me lês a alma. Quando entro na sala, damos todos um beijinho de bom dia e distribuímos tarefas, é o momento da planificação que antecede a execução das atividades previstas para o dia. E tu sempre a observar-me, Clarinha, e quando me sentes "triste" sentas-te ao meu colo e dizes-me:
- A tutora ta tite.
Eu imediatamente para não te preocupar faço-te cócegas para te provar que estou muito bem. E tu insistes:
- Tá tite, ta!

Como é possível? Como? Aquela criança ser tão sensitiva, é a única capaz de ler o meu estado de espírito. 

São assim, as crianças especiais! 

MANUELA CUNHA PEREIRA 

Professora Especializada em Educação Especial e autora do livro Autismo - Um perturbação pervasiva do desenvolvimento . É Presidente do Conselho Geral do Agrupamentos de Escola de Gondifelos e mentora e formadora/dinamizadora dos projetos "Escola de Pais Especiais" e "Sala de Aula Desenvolvimental - Crianças Especiais". Frequenta atualmente o mestrado em Educação Especial. 

Fonte: Educare

domingo, 4 de março de 2012

V Torneio Internacional de Futebol e Atletismo Adaptado marcado para Albufeira

A 5.ª edição do TIFAA – Torneio Internacional de Futebol e Atletismo Adaptado vai realizar-se no Estádio Municipal de Albufeira, no próximo dia 17 de Março, contando com a presença de cerca de 600 participantes, entre equipas portuguesas e holandesas. 

Este ano, a par do futebol, o atletismo marcará também presença através de três provas, promovendo a participação numa atividade desportiva adaptada e proporcionando às pessoas com deficiência física e mental a oportunidade de conviverem com pessoas de outras partes do país e com equipas de outras nacionalidades. 

Já na sua 5.ª edição, este torneio é atualmente o maior evento desportivo deste âmbito realizado em Portugal. 

Com organização da APEXA – Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve e da Câmara Municipal de Albufeira, o evento conta ainda com a parceria de duas instituições de Amersfoort, na Holanda, que se dedicam à promoção da prática desportiva de pessoas com deficiência, a Fundação Albufoort e a ROC Midden Nederland (Universidade na Holanda). 

As inscrições para participação no evento deverão ser remetidas para a APEXA (contacto telefónico 289561637) até ao próximo dia 2 de março.

Fonte: Diário Online . Região Sul

Cérebro pode aprender tarefas mentais com células que desempenham tarefas motoras

O cérebro humano pode aprender a desempenhar tarefas exclusivamente mentais com os mesmos circuitos que utiliza para tarefas motoras, uma descoberta de investigadores portugueses e norte-americanos que pode influenciar a maneira como se fabricam próteses.

Estas conclusões, publicadas hoje na revista Nature, são o resultado da investigação de neurocientistas da Fundação Champalimaud e da Universidade de Berkeley, na Califórnia.

No estudo, os investigadores sugerem que a mobilidade perdida pode ser recuperada através do pensamento, com uma área do cérebro utilizada habitualmente para uma função motora que pode ser treinada para outra tarefa puramente mental.

Rui Costa, neurocientista da Fundação Champalimaud, disse à Agência Lusa que a investigação mostrou que "animais e pessoas podem aprender muito rapidamente regras arbitrárias" diferentes entre si, seja algo com intervenção motora, como "tocar piano ou usar um teclado", ou algo abstrato, como "aprender xadrez".

O investigador referiu que usando animais e um dispositivo que lhes dava uma recompensa, foi possível usar a atividade cerebral em vez da mão como mecanismo de obtenção da recompensa, uma "plasticidade" dos circuitos cerebrais que ficou agora comprovada.

O trabalho dos investigadores abre novas possibilidades na construção e uso de próteses controladas mentalmente para pessoas que tenham tido lesões que impliquem a perda de mobilidade.

Segundo o investigador Jose Carmena, da universidade de Berkeley, as conclusões do estudo são "fundamentais para as pessoas que não se podem mover".

"A maioria dos estudos interface cérebro-máquina têm sido feitos em sujeitos saudáveis, com capacidades motoras, por isso ficava sempre em aberto a questão de saber se os resultados poderiam ser transferidos para um pacientes que ficou completamente paralisado", afirmou.

Rui Costa acrescentou que ficou provado que pode ocorrer uma alteração funcional de determinadas circuitos cerebrais, sendo de esperar que a própria morfologia, ou anatomia dessas partes do cérebro, venha a alterar-se em função disso.

Fonte: iOnline