terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ensinar a ler: há vários métodos para juntar as letras por Sara R. Oliveira

Sintéticos, analítico-sintéticos, globais. Os professores têm várias ferramentas para que as crianças aprendam a ler e os pais não devem ficar de fora deste processo. Da palavra à letra, da letra à palavra, passando pelas sílabas, os pré-requisitos são fundamentais.

Aprender a ler é um passo importante. Há vários métodos para ensinar a juntar as letras e reproduzir os sons e os professores têm a tarefa de escolher um ou mais para que a aprendizagem aconteça. Os pais têm também um papel importante e brincar ajuda a valorizar o processo. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, referentes aos Censos de 2001, enquanto os números recolhidos este ano ainda não são conhecidos, cerca de 9% da população portuguesa é analfabeta. 

A UNESCO, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, revela que cerca de 16% da população adulta mundial não sabe ler nem escrever, dois terços são mulheres. O Dia Internacional da Alfabetização foi assinalado a 8 de setembro. No nosso país, há sinais de melhorias: 52,4% dos jovens dos 15 aos 24 anos afirmam que a leitura é muito importante para a vida pessoal num inquérito feito em março deste ano, no âmbito da avaliação externa do Plano Nacional de Leitura (PNL). Em 2007, a percentagem era de 30,6%. Em cinco anos de existência, o PNL "ajudou a reforçar as competências de leitura" e agora quase 99% dos professores garantem que os seus alunos leem mais. 

"O processo de aprendizagem é complexo. O aluno tem de perceber que as letras reproduzem os sons da fala. Hoje, pede-se ao aluno que analise os sons que produz, a língua oral, antes e em paralelo com a aprendizagem da escrita." Ana Rodrigues, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico, explica o caminho. Há vários métodos de aprendizagem da leitura e da escrita que se situam entre os sintéticos, analítico-sintéticos e os globais. Mas esta aprendizagem requer alguns pré-requisitos linguísticos, cognitivos e até emocionais. 

Ana Rodrigues aproveita o que considera oportuno de cada método para que os seus alunos aprendam a ler. O importante é que os mais pequenos tenham já algumas ferramentas como, por exemplo, uma boa discriminação fonológica. E os professores têm a tarefa de trabalhar os pré-requisitos com os alunos. "Por onde tenho passado, os métodos mais utilizados pelos professores são aqueles que se dizem sintéticos ou analítico-sintéticos", refere. E porque existem diferentes métodos? "Diria que se deve a uma busca pelo método ideal. A pedagogia, a psicologia, a linguística, entre outras, vão sofrendo evoluções e os processos baseados nessas disciplinas, como a aprendizagem da leitura, também", responde. 

Ana Rodrigues não reteve uma imagem do momento em que aprendeu a ler. "Não me ficou nenhuma recordação", diz. Mas tem um episódio curioso para contar. Há quatro anos, numa turma mista do 1.º e 4.º anos de escolaridade, constatou que, ao contrário do que seria de esperar, foram os alunos do 4.º ano que mostraram interesse pelas matérias e conteúdos da primeira classe. "Não esperava ver os alunos do 4.º ano completamente fascinados com o processo de aprendizagem da leitura e escrita dos do 1.º ano." "Falámos sobre isso e eles, apesar de terem efetuado a aprendizagem da leitura há pouco tempo, não tinham memória, consciência, do desenrolar desse processo", lembra. 

Manuela Sousa, professora do 1.º ciclo, refere que o método mais utilizado para ensinar a ler é aquele que acompanha os manuais, ou seja, o sintético. "É evidente, quer seja este método utilizado ou outro, ele nunca estará a ser utilizado de forma exclusiva", avisa. O professor tem a liberdade de misturar métodos. Para a professora, mais importante do que isso são as estratégias utilizadas. 

"É necessário haver estratégia, gestão e todo um conjunto de criatividade que permitam ao aluno aprender." A estratégia não pode caminhar em apenas um sentido e os conhecimentos que o aluno tem são importantíssimos para juntar as letras e começar a ler. "Acredito que antes de iniciar qualquer tipo de aprendizagem na leitura e escrita de palavras, frases, textos, há que insistir na parte fonológica. Porque o ‘a' não tem sempre o mesmo som", explica. Para Manuela Sousa, não há uma melhor maneira de as crianças aprenderem a ler. "Há um professor, um orientador". 

Neste momento, a articulação entre o pré-escolar e o 1.º ciclo acaba por espicaçar a curiosidade dos mais pequenos que têm ao dispor livros do Plano Nacional da Leitura e que se habituam à presença das letras cada vez mais cedo. Joaquina Quintas, professora do 1.º ciclo, também refere que há vários métodos para ensinar a ler e a escrever. Da palavra à letra, ou da letra à sílaba e depois à palavra, ou das histórias que conduzem à letra, há de tudo um pouco para abrir as portas ao mundo das letras. "Não há um método rígido". 

"Normalmente, acaba por haver uma fusão de métodos para uma melhor aprendizagem da leitura e da escrita." Os professores podem escolher e adaptar o que acharem mais conveniente ao grupo que encontram pela frente. Este ano, com o plano de leitura da Língua Portuguesa, os docentes acabam por ter mais formação na área. E se há um aluno que se atrasa? "O professor pode usar outras maneiras de estar no grupo, outro método." 

Joaquina Quintas aprendeu a ler da maneira tradicional, da letra à palavra, pela memorização. Há mais de 30 anos no ensino, a experiência mostra-lhe que hoje as crianças aprendem a ler mais cedo e com menos dificuldades. "Têm contacto direto com os livros a partir do pré-escolar, dos três anos, e há muitos jogos didáticos magnéticos, para construírem palavras." Há mais contacto com a TV e com os computadores. A professora do 1.º ciclo chegou a ter alunos que aprenderam a ler com o antigo programa da RTP "Rua Sésamo". Há uma nova maneira de estar que naturalmente se reflete quando os mais pequenos dão os primeiros passos na escola. 

Aprender a brincar 
Maria José Araújo, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, adianta que as crianças aprendem cada vez mais cedo a ler e a escrever ao observar e ao interagir com os adultos e amigos "em aprendizagens focadas em rotinas, histórias e atividades sociais diferenciadas". "Há uma diferença entre colocar crianças a memorizar letras e números, a fazer fichas estandardizadas sem significado social, e o uso de diferentes formas de grafismo e registo que permitem às crianças a possibilidade de usufruir de uma aprendizagem pela descoberta", sustenta. 


Fonte: Educare

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