sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Açores aplicam multas a pais de estudantes problemáticos

Os pais dos estudantes das escolas do básico e secundário dos Açores podem vir a pagar multas, caso os seus filhos faltem às aulas ou se envolvam em casos de indisciplina. As famílias que não cumpram o pagamento destas contra-ordenações podem mesmo perder direito aos apoios da acção social. Estas medidas fazem parte do novo estatuto do aluno na região autónoma, que ontem foi publicado em Diário da República.

O decreto que regula o estatuto do aluno dos ensinos básico e secundário nos Açores estabelece contra-ordenações que podem ir dos 20 aos 300 euros. Estas multas podem ser aplicadas aos pais que não compareçam à escolas quando os seus filhos atinjam o limite de faltas ou que não se responsabilizem pela pontualidade dos estudantes. O não cumprimento de tarefas escolares e a existência de problemas disciplinares são também elencados no documento como motivo para aplicação de coimas aos encarregados de educação.

Os pais devem “responsabilizar-se activamente pelos deveres de assiduidade e de disciplina dos seus educandos”, lê-se no decreto legislativo, que determina que o produto das coimas aplicadas deve reverter para o fundo escolar da unidade orgânica em que os alunos estejam inscritos.

Em caso de não pagamento das multas definidas no novo estatuto do aluno dos Açores, há outras sanções para as famílias. Os pais que beneficiam dos regimes da acção social escolar e do transporte escolar podem ficar sem esse apoio. No caso das famílias que não tenham direito a bolsas de estudo, a coima pode duplicar de valor em caso de incumprimento.

O documento foi aprovado por maioria no parlamento regional em Outubro, com os votos do PS, PSD e CDS-PP. BE, PCP e PPM votaram contra. Na altura a Confederação Nacional das Associações de Pais tinha antecipado que a proposta açoriana serviria de bitola para o documento que está a ser preparado para o continente.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Educação e Ciência não comenta essa possibilidade. O Governo mantém a previsão da apresentação de um novo estatuto até à Primavera, com o objectivo de permitir a sua entrada em vigor no próximo ano lectivo.

Fonte: Público

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paula Teixeira recebe Galardão da Inclusão

Paula Teixeira irá receber, no próximo dia 3 de Dezembro, o Galardão da Inclusão na categoria Cultura Desporto e Lazer, de forma a distinguir o trabalho realizado ao longo da sua carreira.

A “II Gala da Inclusão”, será uma vez mais organizada pela Câmara Municipal de Leiria, com o intuito de Comemorar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.

Paula Teixeira é conhecida do público como cantora e há muitos anos que tem desenvolvido um trabalho em paralelo como intérprete de língua gestual. Sempre que pode, apoia iniciativas ligadas a solidariedade e inclusão social, sendo inclusive madrinha da APADP (Associacão de Pais e Amigos de Deficientes Profundos).

Desde 2005 que Paula Teixeira desenvolve o projecto “Som & Silêncio”, um projecto multigeracional que alia os dois mundos da sua carreira – a música e a ausência de sons.

Este projecto consiste num concerto acústico, mas muito pedagógico, onde Paula Teixeira apresenta os seus temas musicais a crianças, jovens e adultos, convidando-os a viajar por estes dois mundos aparentemente opostos, numa comunhão entre a Música e a Língua Gestual Portuguesa.

O público é levado a descobrir novos horizontes de aprendizagem e partilha, dando um novo significado à palavra Comunicação. O espectáculo tem viajado por todo o país com grande receptividade, cumprindo os objectivos propostos – a constituição para a consciencialização e educação social de crianças, jovens e adultos.

O Som & Silêncio nasceu essencialmente para ser promotor da educação inclusiva, usando como ferramenta a mais universal de todas as linguagens – a música.

Paula Teixeira está obviamente orgulhosa por este Galardão, que irá receber já no próximo dia 3 de Dezembro, pelas 21h no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.

Fonte: Destak.pt

Pais em Rede é um projecto pioneiro

Pais em Rede é um projecto pioneiro, um movimento cívico, que pretende transformar as mentalidades e melhorar as vidas das pessoas com deficiência e suas famílias. 

Para festejar os 30 anos da mais nova dos seus sete filhos, Luisa Beltrão organizou um jantar com 200 convidados. Este jantar foi especial, porque a aniversariante pertence àquele número de um em cada dez portugueses que tem deficiência mental, sensorial ou motora, causada por doença ou acidente, ou de um em cada oito portugueses discriminado por ser deficiente, mais do que por motivos racismo, idade ou orientação sexual. A família inteira envolveu-se na festa, e a aniversariante foi protagonista, integrada nas regras de convívio da sociedade em que vivemos.

Em simultâneo, ganha entre nós maior expressão o Pais Em Rede, o movimento nacional que envolve a sociedade portuguesa em todas as regiões do país, na causa da integração das famílias com especiais necessidades de ajuda, apoio e solidariedade. Em www.pais-em-rede.com, a saúde, a educação, a profissão, o presente e o futuro aparecem, como áreas de intervenção. Em Portugal existem mais de mil instituições, associações, estruturas de apoio públicas ou privadas dedicadas a estes cidadãos. Mas que raramente conseguem resolver as suas carências, ajudá-los no acesso à educação e à habitação, integrá-los plenamente na sociedade. Luisa Beltrão entrou a fundo na luta pelo projecto que hoje é realidade. A fazer-nos pensar.

Como nasceu o Pais em Rede?
A ideia anda no ar com muita força, tem a ver com a sociedade inteira. Não pode haver integração social das pessoas com deficiência sem que os pais e a família tenham um apoio. O projecto surgiu num almoço que a Dr.ª Maria Cavaco Silva deu em Maio de 2008. E o Pais em Rede foi criado em Dezembro desse ano por 15 pessoas, todas com filhos portadores de deficiência. É uma rede nacional organizada em núcleos. Já há dez dos 20 núcleos distritais que temos a intenção de formar, e há núcleos locais, formados para estar perto das pessoas.

Como se chega ao sucesso de um movimento desta natureza em Portugal?
Temos tido o entusiasmo e a colaboração do Poder Local e das Universidades, do Ministério da Saúde e da Dr.ª Maria Cavaco Silva, que nos deu o seu patrocínio. Mas é importante a mudança de mentalidades, é essencial entender-se a inclusão das pessoas com deficiência, um conceito novo segundo a ONU, ratificado pelo Estado português em Dezembro de 2008. Segundo este conceito, há a deficiência da sociedade e a deficiência da pessoa. A pessoa pode ter uma deficiência, mas a própria sociedade é deficiente se não integrar as deficientes. Em quase todos os países se pratica o conceito de inclusão. Em Portugal, apesar da legislação ser óptima, o conceito não é cumprido e a situação é muito grave.

Quantos são os portadores de deficiência portugueses?
Não há números fidedignos, os próprios levantamentos são mal feitos.

Não há apoios?
Não há, porque os apoios são pontuais, numa fase de vida ou numa terapia ou doença ou cuidados médicos. Não há um acompanhamento constante. A não ser dos pais.

É aí que se aplica o novo conceito de parents empowerment?
Sim. Não há tradução portuguesa para a expressão, que significa os pais assumirem a gestão do processo de inclusão dos filhos. O que cria um trabalho de equipa com os técnicos, os terapeutas, os médicos, os professores. Ao nascer, uma criança com problemas precisa de ter cuidados especiais porque nasceu diferente, os pais têm de ter capacidades específicas para os educarem, tratarem e viverem essa condição existencial.

O que está a ser feito?
Para criar “oficinas de pais” capazes de os capacitar e fortalecer e formar, criou-se um projecto de parceria com o Alto Comissariado para a Saúde, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e mais seis universidades. Já houve uma oficina experimental em Maio e Junho deste ano com 23 pais de todo o país e nove formadores qualificados, quase todos professores universitários, que trabalharam para criar o modelo adequado de formação. Isto foi pioneiro.

Em Novembro houve um Colóquio na Fundação Calouste Gulbenkian.
“A Força dos Pais” foi o título do I Colóquio Internacional, inteiramente realizado por pais. E em 3 de Dezembro celebrámos o Dia Internacional da Deficiência. “Dar Voz aos Pais” é a palavra de ordem para este exercício de cidadania.

Têm andado milhares de quilómetros, de norte a sul do país para defender esta causa. Qual é o seu sentimento?
Tudo o que aprendi na vida está a ser usado com frutos que germinam na sociedade e isto é uma progressão geométrica.

Rodrigo nasceu 20 de Março de 2008, por cesariana. Aos três dias de vida foi internado por sépsis neo-natal, com febre, vómitos persistentes, perda de apetite, hipotonia e fraco contacto visual. Às três semanas teve alta, às cinco semanas foi operado a uma estenose hipertrófica do piloro e aos três meses, ao coração. A uma semana em coma induzido, por colapso do pulmão, seguiu-se nova cirurgia ao estômago. Aos nove meses era alimentado gota a gota, tem tido internamentos sucessivos, hoje continua a alimentar-se por máquina, não anda, não fala e tem dificuldades cognitivas. No entanto, é uma criança expressiva, carinhosa, bem disposta, feliz.

Guilherme, 9 anos. Aos três anos, por não falar, os pais levaram-no a uma consulta de desenvolvimento no Hospital D. Estefânia, onde lhe foi diagnosticado autismo. Seguiram-se mais duas avaliações, a segunda na Unidade de Primeira Infância da Estefânia ou UPI. O Guilherme tem um enorme défice de comunicação e de relação, e só agora, aos 9 anos, conseguiu pela primeira vez verbalizar a sua vontade de não querer um alimento. O Guilherme lê e escreve e tem capacidade para o cálculo e para a música, é afectuoso.

Para ler mais aqui.

Fonte: Máxima

Alunos sobredotados são ignorados nas escolas e vivem à margem da lei

É caso único na Europa. Congresso alerta para o desperdício de talento que, sem apoio, será formatado pelas escolas até à normalidade.

Quantos alunos sobredotados estão nas escolas portuguesas é um cálculo que só se faz por aproximação. Os professores não ouvem falar deles durante a sua formação, o ensino não consegue identificá-los e, no plano legal, nem sequer têm direito a existir. “Não há um decreto. Portugal é, aliás, caso único na Europa”, conta Cristina Palhares, da Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS), que promove hoje em Braga o segundo dia do congresso internacional “Sobredotação e Talento – Atenção da Escola à Diversidade”.

Ao não haver “suporte legal”, não há também maneira de promover formação, desenvolver currículos adaptados ou direccionar os recursos das escolas para apoiar esta população. Saber quantas crianças sobredotadas vivem em Portugal não tem uma resposta directa. Estima-se que sejam 3% a 5% da população mundial: “Num universo de mil alunos de uma escola, serão 50 crianças, mas não estão minimamente identificadas.”

Lá fora é diferente e o congresso da ANEIS trouxe dois exemplos que poderiam ser adoptados nas escolas portuguesas. Brasil e Espanha têm estas crianças inseridas no grupo de alunos com necessidades educativas especiais: “Estes meninos são acompanhados pelos mesmos professores que apoiam as crianças com deficiências.” Isto faz todo o sentido, defende Cristina Palhares. Por serem diferentes da norma, precisam de atendimento especializado.

Falta de legislação e incapacidade das escolas de sinalizar crianças sobredotadas têm consequências, embora seja difícil algum dia virmos a saber quanto talento o país desperdiça. Como tudo na vida, a inclusão tem um reverso, avisa a secretária da direcção da ANEIS. E se, para o caso das crianças deficientes, estar nas mesmas turmas que outros colegas contribui por si só para subir o seu desenvolvimento, o mesmo não acontece com os sobredotados. “Se não existir um atendimento diferenciado, a escola vai formatando a criança até a normalização.”

Sem acompanhamento, a escola não faz mais que normalizar o talento que estas crianças de-senvolvem mesmo em meios hostis. “Conheci um menino que sabia ler e escrever muitíssimo bem com cinco anos e não tinha um livro em casa. Há crianças que, mesmo em ambientes adversos, conseguem desenvolver os seus talentos.” Isso só não chega. Sem trabalho, o dom atrofia, como “qualquer músculo que não é exercitado”.

Fonte: ionline

sábado, 19 de novembro de 2011

Processo de avaliação dos alunos do ensino básico - Despacho Normativo n.º 14/2011

Foi publicado o Despacho Normativo n.º 14/2011, que introduz algumas alterações ao Despacho Normativo n.º 1/2005, relativo ao processo de avaliação dos alunos do ensino básico. Aparentemente, trata-se da inclusão de ajustamentos, sem alterações significativas, salvo introdução dos exames no 6º ano.
São introduzidos alguns números relativos aos alunos com necessidades educativas especiais que pouco ou nada alteram relativamente ao normativo existente.

Os alunos abrangidos pelo artigo 21.º (Currículo Específico Individual) do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, estão dispensados da realização dos exames.

Os alunos abrangidos pelo n.º 1 do artigo 20.º (Adequações no Processo de Avaliação) do Decreto -Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, realizam as provas finais dos 6.º e 9.º anos de escolaridade com as adequações no tipo de prova, instrumentos ou condições de avaliação previstas no seu Programa Educativo Individual.

À semelhança do que já vigorava, nos 2.º e 3.º ciclos, para os alunos abrangidos pelo artigo 21.º (Currículo Específico Individual) do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, a informação resultante da avaliação sumativa expressa -se:
a) Numa classificação de 1 a 5, em todas as disciplinas, acompanhada de uma apreciação descritiva sobre a evolução do aluno;
b) Numa menção qualitativa de Não satisfaz, Satisfaz e Satisfaz bem, nas áreas curriculares não disciplinares e em áreas curriculares que não façam parte da estrutura curricular comum, acompanhada de uma apreciação descritiva sobre a evolução do aluno.

Os alunos surdos que frequentem o ensino bilingue em escolas de referência realizam provas finais de Português Língua Segunda (PL2).

Ao aluno que atingir a idade limite da escolaridade obrigatória, abrangido pelo artigo 14.º (Plano Individual de Transição) do Decreto -Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, deverá, mediante requerimento do respectivo encarregado de educação ou do próprio aluno, quando maior, ser mandado passar, pela direção do estabelecimento de ensino, um certificado de equivalência à escolaridade obrigatória para efeitos de admissão no mercado de trabalho.

Os certificados a utilizar são os legalmente fixados para o sistema de ensino, devendo neles vir especificados os conhecimentos adquiridos no âmbito do definido no plano individual de transição do aluno.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Preciso de Ajuda sobre o Síndrome de Startle

Tenho um aluno com este síndrome e sei tão pouco sobre ele... tudo que encontro é isto:

Síndrome de Startle (Susto Repentino) foi descrito pela primeira vez em 1989 e é uma variante da Epilepsia. A maioria das pessoas são sensíveis a apenas uma modalidade sensorial, mas a natureza inesperada do estímulo é a sua característica distintiva. As crises são frequentes, geralmente durando menos de 30 segundos e consistem numa resposta de sobressalto seguido por uma fase tónica breve, mas característica.
A lesão é comum quando as crises ocorrem em pessoas que estão em pé ou quando estão em locais de risco. 
As pessoas com este síndrome costumam ter lesões cerebrais e deficiência intelectual.

GOSTARIA QUE CASO ALGUÉM CONHEÇA OU TENHA EXPERIÊNCIA COM ESTE PROBLEMA ENTRASSE EM CONTACTO COMIGO!

O meu aluno revela uma série de desordens do movimento corporal (pouco tónus muscular, algumas alterações a nível da cintura escapular e cintura pélvica, falta de equilíbrio, falta de coordenação),  um défice cognitivo moderado, uma necessidade extrema de 
controlo, apoio, atenção e orientação quase permanentes por parte de um adulto.

Além deste quadro apresentado, neste contexto não consigo encontrar informação que faça qualquer interligação, o aluno 
não consegue gerir o seu comportamento uma vez que se descontrola sem 
razão para tal, agredindo física e verbalmente os colegas e professores.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Conclusões do 2º Congresso Internacional “Derrubar Barreiras Facilitar Percursos”

A Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, realizou de 28 e 29 de Outubro o Segundo Congresso Internacional subordinado ao tema “Derrubar Barreiras. Facilitar Percursos”, com a presença de alguns dos mais proeminentes académicos e investigadores nacionais e internacionais. Os cerca de 300 participantes, na sua maioria professores desta área, debateram temas atuais relacionados com a Educação Especial e Inclusiva, nomeadamente Políticas, Educação de crianças e jovens com NEE, Equidade, Qualidade de vida, Identidade Profissional dos Docentes de Educação Especial, Centros de Recursos, Transição para a Vida Adulta, Investigação, Articulação entre Serviços, o Papel dos Pais, Intervenção Precoce e Unidades de Ensino Estruturado e Especializadas, entre outros. Da riqueza dos debates e das comunicações apresentadas, elaborou-se o seguinte documento que foi aprovado na sessão de encerramento do Congresso:

CONCLUSÕES

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A Educação Inclusiva (EI) continua a ser um conceito que se mantém na ordem do dia continuando a apresentar-se como suporte indispensável na definição das políticas e na implementação das práticas. Nestas transformações há que ter em conta que os modelos a usar devem primar pela flexibilidade, evitando aplicações “cegas” a realidades necessariamente diferenciadas e valorizando-se a especificidade cultural, o sistema de valores e as forças de mudança que muitas vezes já existem no seio das comunidades educativas. As mudanças devem partir de uma análise das situações concretas.

MUDANÇA NAS POLÍTICAS

Não é só a escola que deve mudar, também as autoridades locais e nacionais necessitam de operar mudanças significativas nas políticas. Não se pode organizar o ensino sem se definir claramente os objetivos e avaliar as lideranças de forma clara e consistente. A generalização da EI em termos nacionais e internacionais torna pertinente clarificar o conceito e a sua operacionalização ao nível central e local. Para qualificarmos a EI, há que planificar de forma fundamentada e clara através de avaliações consequentes. Essa avaliação faz parte de uma prática corrente dessa mesma mudança. A inclusão não se restringe ao interior da escola, envolve também um sistema político que saiba projetar e avaliar as mudanças nos momentos próprios e não apenas no âmbito dos calendários eleitorais. Saber manter uma política sistemática e continuada de consenso nacional é muito importante para que as transformações positivas na escola possam ocorrer de forma efetiva e sustentada, pois elas são necessariamente lentas.

O respeito pela autonomia das escolas e dos professores não deve inibir as entidades governamentais de enquadrar e coordenar a implementação de políticas em termos locais, de forma a promover a equidade e facilitar os processos de interpretação, que cada interveniente faz das políticas emanadas.

Decorrente dos resultados de vários estudos que avaliaram a aplicação do Dec.Lei 3/2008, torna-se necessária a sua melhoria, tendo em conta as diferentes perspetivas já conhecidas, bem como os resultados da investigação actual.

EQUIDADE

É sempre necessário desafiar o conceito de EI e ir mais além centrando a questão na vertente da “equidade”, de modo a que os alunos com NEE sejam tratados com justiça e tenham igualdade de acesso e de participação efetiva na aprendizagem e em toda a vida escolar.

Deveremos colocar hoje a questão se os nossos alunos estão a ser tratados de forma justa no seu processo de inclusão. Torna-se por isso imperioso que a avaliação das melhorias não tenham apenas em conta os resultados académicos, mas também de como as escolas contribuem de forma qualitativa para o sucesso e equidade das populações mais vulneráveis no seu seio.

COLABORAÇÃO

Continua a ser consensual como uma das peças chave da EI, a “colaboração”, não apenas dentro da própria escola entre alunos e entre professores, mas também numa perspetiva de colaboração entre escolas e entre as escolas e a comunidade, evitando possíveis assimetrias.

Fica o desafio: é imperiosa a colaboração nas escolas, entre as escolas e para além das escolas.

Para promover a EI com equidade é importante que as escolas possam aprender entre si e sem exceção de forma a não decalcar no sistema de ensino, o ciclo de desigualdades de uma sociedade hierarquizada.

QUALIDADE DE VIDA

Da mesma forma deveremos insistir no conceito de “qualidade de vida”. Neste contexto, a qualidade de vida determina processos de interação social, de lazer, de autonomia, de autodeterminação e de liberdade individual. No desenvolvimento dos projetos de vida dos alunos deverá existir um equilíbrio entre uma vertente académica, do currículo e o desenvolvimento formal e sistemático de competências que promovam a qualidade de vida em termos mais globais.

ARTICULAÇÃO ENTRE SERVIÇOS

Emerge a necessidade de uma articulação entre serviços e entre entidades locais e governamentais. A melhoria da qualidade educativa exige o envolvimento de todos os setores sociais e políticos. Essa necessidade tem-se manifestado mais no serviço de intervenção precoce, mas também em todos os processos de melhoria nas escolas portuguesas. Como exemplo: a implementação da CIF, onde as dificuldades de articulação entre os serviços foram (e continuam a ser) verdadeiramente sentidas.

CIF

A utilização da CIF cinge-se ao processo de classificação, cuja aplicação dos quantificadores fica ao livre arbítrio dos aplicadores, dado não existirem instrumentos de avaliação educacional com correspondência direta aos quantificadores. A aplicação da CIF em Portugal, quer na educação, quer na saúde, é sentida como um instrumento inadequado a uma avaliação compreensiva das necessidades educativas dos alunos. O acesso a medidas de apoio, ou a serviços, não deve depender da classificação das incapacidades, mas sim da necessidade que o aluno tem em beneficiar dos apoios. A prevalência dos critérios médicos sobre os critérios educacionais deverá ser definitivamente repensada em Portugal, dado que contraria a perspetiva de EI e de Necessidades Educativas Especiais.

CRI

A forma de funcionamento das equipas multidisciplinares dos CRI deveria ter como princípio um apoio a toda a escola, inclusivamente pais e professores. Não foi valorizada a eficácia de quantificadores, como a quantidade de apoios terapêuticos individuais, em detrimento do desejável reforço da articulação e do suporte à ação dos agentes educativos.

Numa perspetiva de articulação de serviços, a implementação dos CRI, continua a ser uma medida a necessitar de reavaliação. Dado que existem muitas outras entidades que poderiam constituir-se em recursos para a inclusão, inclusivamente as próprias escolas do ensino regular.

Este programa carece de uma avaliação que possibilite que os CRI vão ao encontro das necessidades das escolas de forma articulada, centrando este processo na escola do ensino regular como local de construção da EI.

PAIS

Os pais são uma força fundamental para as transformações qualitativas no sistema e na melhoria dos processos de inclusão nas escolas. É desejável a participação ativa dos pais no diagnóstico, planificação e no encontrar de soluções para os problemas, devendo fazer parte dos processos de decisão. A sua participação é reconhecida e valorizada neste processo. São desejáveis processos e programas de articulação entre os pais e os profissionais a vários níveis.

TVA

Numa altura em que a escolaridade básica é de 12 anos, há muito a clarificar e definir no âmbito da Transição para a Vida Activa. Sendo uma área fundamental, continua a não haver uma articulação e uma envolvência de entidades e recursos de toda a sociedade. Ficou a preocupação destes processos poderem não ter consequências, devido à ausência de planificações e de orientações e recursos que contemplem esta nova realidade.

LIDERANÇA

O sucesso da inclusão depende, em grande medida, das equipas de direção e do seu envolvimento nos processos de melhoria no sistema educativo. Uma liderança eficaz foi reconhecida como fundamental na implementação de uma EI.

PROFESSORES

Os professores, e em particular os Professores de Educação Especial, são elementos fundamentais e centrais para o desenvolvimento de uma escola que tenha como meta a equidade e a igualdade de oportunidades. Para que seja cumprido o direito a uma educação socialmente justa para todos os alunos é necessário o concurso de variados técnicos mas não deve ser esquecido o papel central do professor, profissional articulador de todos estes apoios e com um papel imprescindível na discussão e desenvolvimento de qualquer solução de escolarização e educação.

No final, os participantes do congresso reiteraram a importância de continuarmos a olhar a EI no âmbito do respeito pelos direitos humanos, no quadro da equidade educativa. Às crianças e jovens com NEE devem ver garantidos os seus direitos de participação em igualdade de oportunidades em todos os setores da sociedade,

Estando todos mobilizados para derrubar barreiras e facilitar percursos.

Fonte: Newsletter Novembro de 2011 (1ª Quinzena) Pró Inclusão ANDEE

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pior que o peso das mochilas é a postura das crianças a escrever

As crianças passam grande parte do seu dia na escola a escrever, ganhando hábitos de postura errados e sendo pouco orientados sobre a forma correcta de pegar no lápis ou na caneta. O que pode ser mais preocupante do que o peso das mochilas, pois o tempo da escrita é mais prolongado.

A escrita à mão é cada vez menos valorizada socialmente. Quem o diz é João Barreiros, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), que considera “deficiente” a forma como as crianças aprendem a escrever. O alerta é para pais e professores, chamados a contrariar esta tendência e a incutir o treino da escrita nos hábitos dos mais novos – em debate hoje na FMH, num evento que promove a escrita ergonómica.

A “sobrevalorização crescente dos instrumentos de teclas”, como o computador e o telemóvel, pode ser a chave para a negligência no campo da escrita. Numa altura em que, diz João Barreiros, o papel é abundante e, por isso, mal aproveitado, o controlo da escrita torna-se mais difícil, não havendo uma “intervenção educativa” nesse sentido.

Também a organização ineficaz do espaço escolar, com mobiliário muitas vezes inadaptado às características das crianças, é prejudicial a uma escrita eficiente, adianta o catedrático. De acordo com João Barreiros, os hábitos de postura não são corrigidos porque não há um apelo dos responsáveis nesse sentido. Mais preocupante do que o peso das mochilas das crianças, assegura o professor, “é a postura” como se escreve, sobretudo porque “o tempo de escrita é mais prolongado” e merece portanto maior atenção. 

As formas incorrectas de agarrar os instrumentos próprias das crianças devem ser corrigidas, o que implica tempo e treino. “É necessário maturar a pega”, afirma João Barreiros, com a ajuda de pais e professores. O que acontece actualmente é que “quase se permite que se aprenda a escrever por um processo de descoberta”, um hábito que “tem de ser corrigido pelo treino”, reforça o catedrático.

Christian Marquardt, especialista em ergonomia do Munich-Borgenhausen Hospital, tem algumas sugestões para que a aprendizagem se efectue da forma eficiente que defende João Barreiros. O colaborador da marca de canetas Stabilo acredita que a procura do ritmo próprio da criança, a escrita experimental com diferentes formas e tamanhos e a garantia de uma posição para mão e braço que não cause desconforto podem resultar numa escrita mais capaz. As experiências com o desenho e a escolha de uma caneta apropriada podem também fazer a diferença.

Também João Barreiros defende a importância das canetas ergonómicas, um negócio que diz em constante desenvolvimento e que contribui efectivamente para hábitos mais saudáveis de escrita. Evoluções ao nível do design na óptica do consumidor, neste caso as crianças, que têm um impacto real na forma como os mais novos escrevem.

E os hábitos de escrita resultam, em última análise, da própria sociedade. João Barreiros compara a nossa realidade com a dos asiáticos, que por prezarem mais a “precisão da escrita” têm uma competência muito superior a esse nível. Para o catedrático, juntando “o material adequado, tempo e treino seríamos também nós bem mais eficientes".

Fonte: Público

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades - Abertura de Candidaturas

O Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P. (IEFP, I.P.), enquanto Organismo Intermédio, informa que decorre, entre os dias 8 de Novembro a 12 de Dezembro de  2011, o período para apresentação de candidaturas anuais referentes a acções a realizar no ano de 2012, no âmbito da Tipologia de Intervenção 6.2 – Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades, e da Tipologia de Intervenção 6.4 – Qualidade dos Serviços e Organizações, especificamente, acções de formação e sensibilização dirigidas a técnicos e outros profissionais de reabilitação profissional, do Eixo 6 do Programa Operacional Potencial Humano, de acordo com os respectivos Regulamentos Específicos, que se encontram disponíveis no sítio do Programa  http://www.poph.qren.pt.

Para consultar clique nos seguintes links:

domingo, 6 de novembro de 2011

Não há, não,
Duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
Não há, de certeza, duas folhas iguais.

António Gedeão
(in Madureira & Leite 2003)

Alunos com autismo sem terapias por "divergências financeiras"

Onze crianças com autismo, de uma escola de Leça da Palmeira, estão sem terapias desde Setembro, alegadamente devido a "divergências financeiras" entre Direcção Regional de Educação do Norte e Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo.

"O corte da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) entristece-me. Acho este caso escandaloso. Deram prioridade às actividades extracurriculares, como as artes plásticas, inglês, música e educação física, mas descuraram as terapias para as crianças autistas numa Unidade de Ensino Estruturado para alunos com Perturbação do Espectro do Autismo", declarou à Lusa Margarida Graça, mãe de uma menina de oito anos com autismo.

Margarida Graça lembra que as crianças com autismo praticamente "não falam" e "precisam ter terapia da fala e de ser ajudadas a atenuar os estereótipos".

A Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) apoiou, durante um período de dois anos lectivos, crianças e jovens com perturbações do espectro do autismo na Escola Básica da Viscondessa, em Santa Cruz do Bispo (Leça da Palmeira).

O trabalho desenvolvido foi "benéfico para ambas as partes" [alunos e associação], mas "divergências financeiras entre a APPDA e a DREN, levaram ao cancelamento das terapias da fala e ocupacional este ano lectivo", confirmou à Lusa a direcção da APPDA, acrescentando que o valor atribuído para o ano 2011/2012 era "incomportável para o bom funcionamento do projecto".

O director do agrupamento de escolas básicas de Leça da Palmeira, Jorge Sequeira, contou à Agência Lusa, por seu turno, que a anulação das terapias na Escola Básica da Viscondessa deve-se ao facto da APPDA ter "rescindido o contrato que tinha com a DREN no final de Setembro, princípio de Outubro".

Jorge Sequeira assegurou, todavia, que há esforços em curso para recolocar terapeutas naquela instituição escolar. "Neste momento, estão a decorrer as diligências necessárias por parte da DREN para se proceder à colocação dos terapeutas", acrescentou.

A Associação de Amigos do Autismo (AMA) informou também que os estudantes com autismo das Unidades de Ensino Estruturado do distrito de Viana do Castelo e Braga, designadamente em Barcelos e Esposende, não estão a ter o apoio de psicologia, terapia da fala e terapia ocupacional desde o início do ano lectivo.

"Este apoio deveria estar a ser dado pelos Centros de Recurso para a Inclusão (CRI), mas até à data este [apoio] ainda não iniciou", lê-se num comunicado enviado esta sexta-feira pela AMA à comunicação social. A Lusa contactou a DREN, mas não obteve qualquer resposta.

Fonte: CM

Separação conflituosa dos pais gera atrasos no desenvolvimento cerebral dos filhos

Todos os dias, 72 casais divorciam-se em Portugal. Muitos têm filhos e não são raros os casos em que as crianças são envolvidas no conflito. As sequelas podem ser graves.

A falta de um clima de segurança e de serenidade na infância deixa marcas na criança, cicatrizes na "anatomia e na fisiologia do seu sistema nervoso central, difíceis de fazer desaparecer", assegurou o psiquiatra e psicanalista Emílio Salgueiro na conferência sobre o Superior Interesse da Criança que decorreu na quinta e na sexta-feira, em Lisboa. 

A neurociência moderna demonstra que os bebés criados por pais que não lhes proporcionaram um clima de segurança e de serenidade "mostram um atraso na maturação cerebral", contribuindo para que neles se instale "uma situação de stress permanente, lesando o cérebro e impregnando as vivências da criança de insegurança, aflição e desorganização", alertou Emílio Salgueiro, a propósito da discussão acerca do interesse da criança nos processos de separação dos pais.

SAP. Desde a década de 80 que esta sigla passou a ser usada nos tribunais e em relatórios médicos no âmbito dos processos de regulação das responsabilidades parentais. Introduzida pelo pedopsiquiatra americano Richard Gardner, SAP corresponde à "síndrome de alienação parental" e aplica-se a situações em que as crianças, filhas de pais separados, se recusam a estar com um dos pais, do qual por vezes têm uma imagem distorcida, devido à manipulação do outro. Habitualmente, o termo é utilizado para designar a manipulação da criança pela mãe para a afastar do pai. 

A opinião acerca da existência desta síndrome não é unânime e tem sido particularmente contestada por grupos ligados à defesa dos direitos das mulheres e contra a violência doméstica, que consideram que, em muitos casos, as crianças não podem conviver com os pais por suspeitas de que eles são os agressores das crianças, nomeadamente em situações de abuso sexual.

Este entendimento é rejeitado pelos defensores da igualdade de direitos quanto à tutela dos filhos, entre os quais se contam muitos homens que se dizem discriminados pelos tribunais, que os impedem de exercer o direito da guarda dos filhos.

O assunto esteve nos últimos dois dias em debate, em Lisboa, na conferência internacional intitulada O Superior Interesse da Criança e o Mito da Síndrome de Alienação Parentalorganizada pela Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, pelo Instituto de Apoio à Criança, pela Universidade Católica Portuguesa e pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. 

Os dados mais recentes do INE revelam que há quase 26.500 divórcios por ano, em Portugal, uma média de 72 por dia. Em grande parte dos casos, as separações são acompanhadas de conflitos cujos efeitos afectam, sobretudo, os filhos. 

E foi esta questão que o psiquiatra Emílio Salgueiro aprofundou na sua comunicação. "O superior interesse das crianças seria o de que não tivesse que haver regulação das responsabilidades parentais", começou por dizer. Notou que um dos direitos naturais da criança é o de "terem um pai e uma mãe que as desejem e que as amem (...)", um amor a que chama de "encantamento fundador". 

Quando se chega a um processo de regulação das responsabilidades parentais, "já houve muita coisa que correu mal ou mesmo muito mal, entre os pais, um com o outro, entre os pais e a criança, entre este trio fundamental e a sociedade", salienta. Esse direito nuclear de toda a criança "foi ficando pelo caminho, mais ou menos maltratado, mais ou menos danificado".

As "vicissitudes, positivas e negativas, que vão ocorrendo no casal acompanham-se de vicissitudes paralelas na relação com o filho", observa o psiquiatra, explicando que a neurociência moderna demonstra que os bebés que cresceram num clima sem segurança e serenidade "mostram um atraso na maturação cerebral, em especial dos lobos pré-frontais, com alterações neuronais e diminuição da taxa de serotonina, neurotransmissor fundamental, reequilibrador dos estados de ânimo e de desânimo, propulsor da força de viver e do prazer em estar vivo". E, sem a base de "apoio seguro", instala-se "uma situação destress permanente, lesando o cérebro".Salgueiro identifica três grandes momentos traumáticos que afectam a criança no seu desenvolvimento emocional: o "clima parental e social precoce negativo", a separação dos pais e as decisões que acompanham a separação, como a "gestão das guardas parentais". O acumular destas várias angústias pode ter um efeito "catastrófico", a menos que "surja uma intervenção exterior revigorante" e "portadora de esperança". E é nesse sentido que Emílio Salgueiro fala de um "tutor de resiliência", alguém que se ligue à criança "por um laço afectivo forte", restaurando um "reencantamento perdido". Na perspectiva deste psicanalista, "a sociedade deveria sentir-se e assumir-se como um gigantesco tutor de resiliência das nossas crianças e dos nossos jovens". 

Para Emílio Salgueiro, a chamada "síndrome de alienação parental" é "falada como se de uma doença se tratasse e não das consequências de um conjunto de medidas inapropriadas tomadas em relação a uma criança". E as "guardas partilhadas muitas vezes não passam de um processo de heranças e partilhas", nota.

Fonte: Público

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O primeiro autista português

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É junto à porta envidraçada da casa onde vive, no Vale de Santarém, que passa largas horas a observar o que acontece do lado de lá. De pé, sereno e concentrado, parece indiferente à presença de estranhos no pátio. E é só quando ouve o seu nome que quebra o silêncio e repete «Luís!» em jeito de confirmação, antes de voltar, como se nada fosse, ao que estava a fazer.
Luís de Almeida Gonçalves, hoje com 51 anos, foi o primeiro autista diagnosticado em Portugal. Os pais - a mãe, psiquiatra, o pai, dermatologista - começaram a estranhar o comportamento do filho quando, cerca dos 2 anos, o menino deixou de falar, ao mesmo tempo que ficava cada vez mais agitado. «A dado momento, ele ficou pura e simplesmente mudo e num estado de instabilidade e de mal-estar atroz», recorda o pai, José Carlos de Almeida Gonçalves. O primeiro passo do casal foi sondar, junto de colegas, o que poderia estar a acontecer com o Luís. De pouco lhes valeu a tentativa. Vinte anos tinham passado desde que o psiquiatra austríaco Leo Kanner publicara o primeiro artigo científico sobre autismo infantil, mas em Portugal nada se sabia ainda acerca desta perturbação global do desenvolvimento. «Diziam-me coisas como "a criança não tem nada, é um pouco nervosa só. Vocês, pais, é que estão doentes, não é a criança".» Alguns médicos quiseram mesmo submeter o casal Almeida Gonçalves a sessões de psicanálise para «curar» a criança. Ainda hoje, José Carlos carrega no tom crítico quando relembra os tempos em que o diagnóstico certo tardava a chegar.

Profundamente decepcionado com os pedopsiquiatras que consultou e perante o «bloqueio emocional» em que a mulher acabou por mergulhar, José Carlos decidiu procurar, por conta própria, as respostas que lhe permitiriam perceber o que se passava com o filho.
«Quando o Luís fez 3 anos, o descalabro já era enorme lá em casa. Não se podia sequer ter uma toalha na mesa que ele passava e arrancava-a. As paredes estavam todas destruídas pelos calcanhares dos sapatos. O mal-estar era tremendo», conta José Carlos, que à época vivia com a mulher e os dois filhos em Lisboa.


Diagnóstico difícil
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Ainda sem saber o que este conjunto de sintomas poderia representar ao certo, José Carlos de Almeida Gonçalves conheceu Evelina Bustorff, uma psicóloga e investigadora reformada que se mostrou interessada em fazer algum tipo de trabalho com Luís. «Ela tinha vivido na Alemanha, tinha trabalhado nos kindergarten que, entre outras coisas, também ensinavam a lidar com pessoas deficientes. Assim, comecei a deixar o Luís com a Evelina. Ela fazia jogos com ele e ele começou a interessar-se e a acalmar», conta.
Um desses jogos era um loto caseiro, construído especialmente para o menino. Primeiro tinha apenas imagens - uma maçã, uma pêra, uma moto - que Luís teria de colocar no lugar certo. Depois, às imagens Evelina juntou palavras. E quando a criança já estava familiarizada com as letras, retirou os desenhos e deixou apenas as palavras. Na altura, o resultado foi surpreendente: «Ele, que tinha estado dois ou três anos sem emitir sons, começou a repetir a primeira sílaba de cada palavra do loto!», recorda com entusiasmo José Carlos. Os jogos repetitivos, sabemos hoje, cativam muito os autistas e podem mesmo estimular pequenas grandes vitórias como esta.

Os progressos eram notáveis, mas ninguém conseguia dizer ainda ao certo o que afligia o pequeno Luís de Almeida Gonçalves. «Eu continuava a procurar opiniões e pessoas e ninguém me dizia nada. Então disse para mim: "Eu tenho de descobrir o que é isto".» E José Carlos assim fez. Dermatologista de formação, começou a dedicar-se à investigação em psicologia e psiquiatria infantil até dar de caras com o que procurava. «Nessa altura eu tinha contacto com uma livraria médica inglesa. Então fui ao catálogo e encontrei um livro sobre "a criança que não fala"», recorda. O mutismo era, de facto, um dos sintomas mais claros que o filho evidenciava, por isso decidiu encomendar o livro que reunia informação científica sobre as várias síndromes que poderiam levar uma criança a deixar de falar. «A certa altura eu leio uma coisa sobre a qual nunca tinha ouvido falar: autismo infantil precoce. Li a descrição e a minha reacção foi: "Ah! É isto!"»

Nessa tarde, em vez de tocar à campainha de Evelina Bustorff para que Luís descesse, como sempre fazia, José Carlos fez questão de subir as escadas e de partilhar com a psicóloga o que acabava de descobrir. «Eu já sei o que o Luís tem!», exclamou. E, para sua surpresa, Evelina respondeu: «Eu também!» A médica tinha contactado um colega alemão a quem descreveu os sintomas que Luís apresentava e o clínico dissera-lhe que só poderia tratar-se de uma «criança psicótica de tipo autista».

A primeira escola para autistas
Passam décadas sobre o acontecimento que marcaria para sempre a vida dos Almeida Gonçalves, mas nem assim o pai de Luís consegue esconder uma réstia de amargura pela forma como o diagnóstico chegou. «Duas pessoas souberam ao mesmo tempo aquilo que os psiquiatras não foram capazes de saber, vinte anos depois de se ter descoberto a síndrome», faz questão de sublinhar.
Fosse como fosse, não havia tempo para ressentimentos. Agora que já se sabia o que Luís tinha, havia que aprofundar conhecimentos, descobrir terapias e tentar ajudar outros pais que também tivessem filhos autistas. José Carlos começou por pedir orientação à britânica National Autistic Society, onde trabalhava uma das maiores referências nos estudos sobre o autismo, a psiquiatra Lorna Wing. «Durante um ano estudei centenas de artigos sobre o assunto. E pensei logo em fundar também uma sociedade, mas não o quis fazer sem antes ter uma preparação teórica muito boa», recorda o homem que uns anos mais tarde viria mesmo a ser um dos fundadores da primeira associação portuguesa dedicada a apoiar autistas e suas famílias, a APPDA, hoje com mais de uma dezena de delegações por todo o país.
Luís tinha já 12 anos quando os pais, juntamente com outras seis famílias, abriram a primeira escola para autistas, instalada numa pequena casa térrea com quintal na Rua Azedo Gneco, em Campo de Ourique, em Lisboa. 
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Um dia-a-dia rotineiro
De molho de chaves ao peito, é a Dona Graça que assoma ao portão da quinta. «Temos de ter as coisas todas fechadas - armários e despensas onde guardamos os alimentos - porque senão o Luís come tudo», justifica-se. Graça casou com José de Almeida Gonçalves depois de o médico ter ficado viúvo. Desde então, tem sido um dos pilares fortes na vida de Luís, que criou com ela uma intensa relação de proximidade, caso raro entre os autistas, que tantas dificuldades têm em socializar e partilhar afectos. «O Luís está sempre muito dependente de uma pessoa. Agora anda sempre atrás da Graça, não a deixa ir a parte nenhuma! Quando, há dias, ela teve de ir a Lisboa e por isso às oito da noite ainda não estava em casa, o Luís entrou em pânico!», exemplifica José Carlos. 
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Frequentar o colégio é, assim, a actividade que marca e define o quotidiano de Luís. É lá que aprende música, ginástica, informática, língua portuguesa, que faz tapetes de Arraiolos. Em casa as ocupações são outras e não se misturam com as da escola. «O que faz num sítio não faz noutro. Como toca piano no colégio, aqui não quer tocar. Lá, dão-lhe lições de computador, mas no meu ele não mexe», explica José Carlos.
Quando chega da escola, Luís ajuda a empregada na cozinha com pequenas tarefas. «Não há uma batata cá em casa que não tenha sido descascada por ele!», revela o pai. «É ele que põe a loiça na máquina, primorosamente um prato de cada vez. E quando a loiça está lavada, é também ele que a arruma no armário da mesma maneira. Também põe a mesa, uma coisa de cada vez, rigorosamente na mesma posição e à mesma distância do rebordo da mesa. O Luís é a única pessoa arrumada cá de casa!», continua José Carlos, com uma boa disposição que a idade ainda não apagou.

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Estes comportamentos obsessivos fazem parte do dia-a-dia de quem lida com autistas, mas nem sempre é fácil saber quais os limites a impor. Só o bom senso e a experiência que os anos trazem conseguem ajudar nestes casos, e José Carlos sabe disso melhor do que ninguém: «Deixamo-lo fazer algumas coisas, outras não. Aqui há tempos o Luís inventou de ficar na casa de banho a vigiar-me e só saía quando eu ia deitar-me. Ora, ficar horas e horas na casa de banho não é saudável. Tivemos de contrariá-lo e com violência. Nessas alturas grita que não quer, mas não chora. Nunca chora.»
Aos 51 anos, Luís tem uma linguagem muito limitada - tenta fazer-se entender com o mínimo de palavras possível -, mas demonstra capacidades notáveis noutras áreas, outra das características associadas aos autistas. Escreve com pouquíssimos erros ortográficos e tem uma memória matemática fora do comum, que não se manifesta só no facto de conseguir decorar o número e posição de cada um dos pontos de um tapete de Arraiolos. 
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Os últimos anos têm sido uma surpresa para a família Almeida Gonçalves, já que revelaram um Luís cada vez mais autónomo, sociável e afectuoso, ainda que esta seja sempre uma autonomia relativa - longe de ser independência - e que os afectos se limitem aos familiares mais próximos.
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Os Almeida Gonçalves não são excepção. Com a naturalidade de quem sabe já ter vivido muitos anos, José Carlos fala abertamente no assunto: Luís poderá manter-se na casa do Vale de Santarém, entregue a um cuidador; ou então mudar-se para a quinta de familiares, onde poderia dedicar-se à agricultura. Passar a viver numa instituição é a hipótese que menos lhe agrada, muito embora saiba que esta é, em muitos outros casos, a única viável. Seja como for, importa-lhe sobretudo que o filho mantenha as rotinas e que lhe seja garantido o acompanhamento e todos os cuidados de que precisa.

Sempre que pode, Luís, o primeiro autista identificado em Portugal, regressa à porta envidraçada. Entretido a olhar a rua, nem suspeita de que, na sala ao lado, se conta a história que despertou o país para as questões do autismo. A sua história.

Fonte: DN

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Brincar ao ar livre ajuda a reduzir miopia

A rua deve ser o lugar de eleição para as crianças brincarem não só pelo fato de fazerem mais exercício físico e conviverem, mas também porque o tempo que as crianças passam fora de casa está associado a uma redução do risco de miopia. Esta é a conclusão de um estudo da Universidade de Cambridge.
O grupo de especialistas apresentou os resultados na reunião anual da Academia Americana de Oftalmologia, que se realizou a semana passada na Florida, Estados Unidos.

A equipa de investigadores analisou oito estudos oftalmológicos recentes, que associam o tempo passado fora de casa e a miopia. Estes estudos envolveram 10.400 jovens e comprovam que uma maior exposição à luz natural e o tempo despendido a olhar para objetos mais distantes são fatores que contribuem para uma saúde visual.
Segundo Justin Sherwin, da Universidade de Cambridge e responsável pelo grupo que levou a cabo a investigação, por cada hora adicional que os mais novos passam fora de casa todas as semanas, o risco de miopia cai cerca de 2%.
Nas brincadeiras ao ar livre as crianças utilizam a visão ao longe e menos a visão ao perto, razão pela qual os especialistas da investigação apontam que exercitar este tipo de visão à distância pode ajudar a combater o aparecimento de miopia.
Contudo, os investigadores consideram que serão necessárias mais algumas pesquisas para "determinar quais os fatores mais importantes: se o aumento da visão ao longe, se o uso reduzido da visão ao perto, se a exposição à luz natural ou se é a atividade física desenvolvida".