quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Hiperactividade e défice de atenção por: Solange Sousa Mendes


A hiperactividade e défice de atenção é uma perturbação neurobiológica que se traduz por uma desatenção inapropriada para a idade. É hereditária e faz-se acompanhar por sinais de agitabilidade motora (hiperactividade). Os sintomas devem estar presentes nos vários contextos do quotidiano do indivíduo: FAMILIAR - MEIO PROFISSIONAL OU ESCOLAR - MEIO SOCIAL.

Esta perturbação apresenta 3 subtipos:

• PHDA do tipo DESATENTO - caracterizado por sinais comportamentais essencialmente relacionados com a desatenção e falta de concentração;
• PHDA do tipo HIPERACTIVO - caracterizado por sinais de agitação motora, dificuldades em cumprir regras e falta de auto-regulação comportamental em geral.
• PHDA do tipo Misto - Caracterizado por sinais de desatenção e de agitação motora.

As causas da PHDA que podem ser provocadas por:

• Alterações dos factores neuroquímicos e neuro-anatómicos no cérebro.
• Alterações dos  factores ambientais e relacionados com aspectos da vida uterina.
• Alteração de factores genéticos e moleculares.

De acordo com a experiência da psicóloga e conferencista Maria João Ferro, o facto de em Portugal, na generalidade dos casos, se dar ênfase à tónica do subtipo hiperactivo, renegando para segundo plano a do défice de atenção, tem feito com que só as crianças hiperactivas tenham acesso às medidas que a lei portuguesa prevê para apoio no âmbito das Necessidade Educativas Especiais. "Apesar de não ser na maioria dos casos, mas a minha experiência (20 anos) mostra-me que ainda existe muita falta de informação, em especial naqueles que têm a responsabilidade de operacionalizar este apoio diferenciado nas escolas", acrescenta. É com pena que a psicóloga desabafa que, na prática, ainda hoje encontra meninos do subtipo desatento que não são abrangidos pela lei das necessidades educativas especiais por não se terem reunido as condições necessárias. Também, pelo que a psicóloga pode constatar, os rapazes são tendencialmente do tipo hiperactivo e as meninas tendencialmente do tipo desatento. Como tal, apesar de ambos apresentarem a mesma perturbação, as meninas podem estar a ser prejudicadas.

Os três subtipos desta perturbação podem acompanhar o individuo toda a sua vida, apesar de em Portugal ainda se acreditar que com a idade esta perturbação tende a desaparecer. Os estudos que nos chegaram nas últimas décadas mostraram-nos que existem diferenças significativas entre os cérebros de indivíduos com diagnóstico de PHDA (independentemente do subtipo) e aqueles supostamente "funcionais" nas questões da desatenção e da hiperactividade.

Estudos comprovados pela experiência de Zametkin e colaboradores (1990) demonstram que o metabolismo da glucose no cérebro das crianças e adultos com PHDA é inferior cerca de 8,1%. Isto implica uma diminuição da circulação sanguínea e correspondente menor activação das células. Como a glucose é o combustível do cérebro, todo o processamento de informação torna-se mais lenta no Cortex Frontal – zona responsável por vários processos implicados na aprendizagem. "Como a atenção depende de alguma forma do funcionamento desta área cerebral, surge o problema da desatenção, procrastinação, má gestão do tempo, entre outros sintomas que tanto atrapalham a vida da criança e do adultos", esclarece a psicóloga.

Os sintomas entre adultos e crianças são diferentes. Transformam-se ao longo da vida. Os sinais de Hiperactividade tendem a desaparecer mas os de desatenção mantêm-se ao longo de toda a vida. Nos adultos é muito comum a proscrastinação, a impulsividade, a má gestão dos sentimentos de frustração, a imaturidade, a irresponsabilidade, tendência para a adição e comportamentos de risco e uma péssima relação com a gestão do tempo.

O diagnóstico destes casos apresenta grande complexidade, pois ainda não há grande concordância na comunidade científica sobre os seus critérios. Nos Estados Unidos da América (EUA), já trabalham esta área há décadas, inclusive os adultos são medicados e seguidos por terapeutas comportamentais. No entanto, em Portugal a intervenção na PHDA dos adultos ainda está a dar os primeiros passos.

Maria João Ferro é das primeiras psicólogas a trabalhar nesta área no nosso país e tem a experiência do modelo SPARK, criado pelo Prof. Dr. John Ratey, Psiquiatra e Professor na Harvard Medical School - que tenta ajudar estes adultos, sem recorrer à medicação.

Este método valoriza a relação CORPO-CÉREBRO. Encara o cérebro (em especial os "preguiçosos" – dos indivíduos com PHDA) como um músculo que pode ser treinado pelo exercício físico. Ratey defende que através do exercício regular (3 x por semana, 20m mínimo de cada vez) se melhoram a atenção, a concentração, a memória de trabalho, o comportamento e a disciplina vs indisciplina.

Fonte: I online

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