"Aqui há uns tempos recebi um presente especial. Nada de mais para o olhar de qualquer um dos leitores, pois o valor material do presente era praticamente nulo; mas muito para mim, porque foi um presente único, pessoal, que me distinguiu de todas as outras pessoas que não o receberam: por outras palavras, fez-me sentir “especial”!
No meu percurso de estudo e profissional também tenho estado ligado a outras coisas “especiais” (infelizmente num sentido diferente da palavra): desde logo ao ensino “especial”; a equipas “especiais”; e sobretudo a “crianças e jovens especiais”… assim se falava e fala nas escolas, nas universidades, nos livros!
Quando comecei questionava-me sobre como responder a tanta “especialidade” e sobretudo se teria capacidade para dar resposta (pessoal e técnica) a necessidades e solicitações tão peculiares. Na altura, os meus mestres sabiamente iam-me alertando (direta ou indiretamente) para a necessidade de me focar em primeiro lugar nas relações humanas e esse foi o ponto de partida essencial para a minha evolução. Mas foi só quando comecei a sair do meu gabinete, a organizar grupos de pais, a visitar os meus clientes nas escolas e a liderar reuniões de consultoria com os professores do Ensino Regular, que me apercebi daquela que penso ser a principal razão para se ter que adjetivar de Especial a Educação das crianças e jovens com perfis divergentes de desenvolvimento, comportamento e/ou aprendizagem. É que na grande maioria das vezes as pessoas estão focadas nos problemas, nos sintomas, nas dificuldades; e não nas pessoas, nas crianças e jovens por detrás dessa máscara de características menos boas. Pessoalmente acredito que a Educação Especial não é a Educação das crianças e dos jovens ditos “especiais”. A Educação Especial é a Educação que transmitem os bons Educadores (pais, terapeutas, educadores e professores) a TODAS as crianças e jovens: quando criam disponibilidade para ouvir; quando dão tempo para responder; quando aceitam e partilham ideias; quando chamam a atenção para o que é importante sem impor “o que é importante”; quando motivam e fomentam o empreendedorismo (sobretudo nas pequenas coisas do dia-a-dia); quando valorizam os pequenos e os grandes feitos; quando atribuem responsabilidades e exigem responsabilidade; quando valorizam o espírito de comunidade e de equipa; quando estimulam a vontade do conhecimento e da exploração; quando se zangam nos momentos e nas proporções certas; quando abraçam, piscam o olho, ou simplesmente partilham um sorriso cúmplice no momento certo. Enquanto seres humanos temos o dever de fazer sentir a todos os que estão à nossa volta, que são Especiais: porque são únicos, nas suas virtudes e defeitos; porque dão sentido à nossa vida, ao que somos e ao que fazemos (pessoal e profissionalmente); porque são a nossa esperança num futuro tão bom ou melhor do que o temos no dia de hoje (porque se estivermos sozinhos certamente não o será!). É que a primeira técnica que deveremos aprender enquanto seres em crescimento é a “técnica” da relação. Esse é o verdadeiro desafio. Ensinar uma criança autista a comunicar adequadamente; um jovem delinquente a ser assertivo e a respeitar os outros; ou uma criança disléxica que FACA se escreve F+A_C+A… é fácil; é objetivo e igual no Algarve, nas Ilhas ou no Minho. Fazer os outros sentirem-se especiais
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como a pequena Mariana me fez sentir quando me ofereceu aquele presente único de que falava no início do texto
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e sentirmo-nos nós próprios especiais é uma experiência única, autêntica, que exige disponibilidade,humildade, vontade de saber mais e o risco… de nos darmos à relação com os outros (de sermos felizes e de nos magoarmos)."
Quando digo que - para mim a relação com os alunos é a base dos pequenos sucessos que com eles consigo atingir - sou incompreendida por muitos mas, ao ler este artigo, identifiquei-me e percebi que afinal não somos tão poucos a conseguir ver estes SERES TÃO ESPECIAIS!!
...Um artigo de Francisco Lontro - francisco.lontro@pimpumplay.pt - Psicomotricista
Quando digo que - para mim a relação com os alunos é a base dos pequenos sucessos que com eles consigo atingir - sou incompreendida por muitos mas, ao ler este artigo, identifiquei-me e percebi que afinal não somos tão poucos a conseguir ver estes SERES TÃO ESPECIAIS!!
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