A Dislexia representa actualmente um grave problema escolar para o qual devemos, enquanto intervenientes do processo educativo, estar mais atentos e consciencializados para que, desta forma, possamos proporcionar aos nossos alunos experiências de aprendizagem adequadas a esta realidade e às necessidades específicas de cada discente, pois segundo Hennigh (2003) “O professor como orientador procura criar uma sala de aula que funcione como uma equipa, sendo cada um dos seus membros necessário e importante. Uma sala em que a comunidade é mais forte do que o indivíduo isolado, sendo este, no entanto, único e especial.”
Sinais de Alerta
Se considerarmos a Dislexia como uma perturbação específica da leitura, é pouco provável que a criança disléxica ao entrar para a escola já se faça acompanhar de um diagnóstico, uma vez que, normalmente, é só no primeiro ano de escolaridade que a criança aprende a ler. Para além disso, a sua detecção é extremamente complexa pois há inúmeros factores a ter em consideração para assegurar rigor e precisão no diagnóstico desta problemática.
No entanto, existem determinadas observações passíveis de serem realizadas antes da criança ingressar na escola. Muitas vezes, os pais têm a percepção de que a criança apresenta dificuldades, antes de estas serem perceptíveis por outros. Cronin (1994, in Hennigh, 2003) assegura existirem aspectos que precocemente podem revelar a existência de algum problema. Segundo o mesmo, existem áreas de observação essenciais para os pais tais como: a capacidade e a coordenação motora; a noção de espaço; a memorização de sequências; a linguagem; a maturidade social; e o comportamento. Visto isto, aconselha a que os pais elaborem anotações quando observam a criança, podendo recorrer a uma grelha de registos, designada por este autor de “Ficha de Observação Parental”. Para Corin (1994, in Hennigh, 2003) “Se os pais estiverem sensíveis para esta realidade e tiverem consciência dos padrões de comportamento e de crescimento do seu filho, então poderão ser realizadas observações, de forma a decidir se devem ser tomadas outras medidas”.
De acordo com Shaywitz (2006) existem alguns sintomas que caracterizam a criança disléxica e que poderão ajudar a detectar o problema numa fase pré-escolar. Os sintomas são: atraso na fala, problemas de aprendizagem de rimas comuns, palavras mal pronunciadas (persistência da chamada linguagem de bebé) e dificuldade em aprender e lembrar o nome das letras (até as do seu próprio nome). É benéfico que, quer os pais quer os educadores estejam atentos e observem se estes sintomas se verificam e persistem com frequência na criança para que se possa detectar, cada vez mais precocemente, a Dislexia e se possa actuar de forma eficaz.
No entanto, na maioria dos casos, aquando da entrada para a escola, é o professor o primeiro a detectar no aluno problemas ao nível da leitura e a encaminhar todo o processo, para que o aluno portador desta necessidade educativa especial possa ser alvo de uma análise por parte de órgãos especializados nesta área. De acordo com Hennigh (2003), “É importante compreender que o professor não diagnostica dislexia … dificuldades de aprendizagem devem ser diagnosticadas por especialistas.”. Nós também concordamos com esta afirmação, pois embora o professor possa ser uma pessoa bem formada e informada nesta área, compete a técnicos especializados o despiste e a elaboração do diagnóstico.
Contudo, devido aos problemas cognitivos que se encontram na base da Dislexia, são inúmeras e diversificadas as suas manifestações e características, sendo que nem todos os indivíduos apresentam as mesmas. Por outro lado, sendo um problema relativo à aprendizagem da leitura e da escrita, as próprias características vão sofrendo modificações com o aumento das exigências escolares.
Condemarin e Blomquist (1989) apontam algumas características das crianças disléxicas em idade escolar, que poderão ajudar o professor na detecção de um caso de Dislexia. Segundo estes autores, um aluno disléxico revelará algumas ou várias das seguintes dificuldades: confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças subtis de grafia (a-o; c-o; m-n; v-u…); confusão entre letras, sílabas ou palavras de grafia similar, mas com diferente orientação espacial (b-d; p-q; b-p…); confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum e sons acusticamente próximos (d-t; c-g; v-f); inversão total ou parcial de sílabas ou palavras (me-em; sol-los; pal-pla…); substituição de palavras por outras de estrutura mais ou menos similar (soltou-salvou; casa-casaco…); contaminações de sons, adições ou omissões de sons, sílabas ou palavras (fama-famoso); repetições de sílabas, palavras ou frases; trocar com frequência as linhas quando está a ler; excessivas fixações do olho na linha; soletração defeituosa; problemas de compreensão; leitura e escrita em espelho; e, ilegibilidade.
A par disto, Torres e Fernández (2001) apresentam ainda características comportamentais reveladoras da Dislexia, sendo elas a ansiedade, a insegurança, ou contrariamente a vaidade excessiva como “camuflagem” da existência de um problema, défice de atenção, fadiga, falta de motivação e de interesse pelas actividades escolares.
Vários autores [Shaywitz, 2006; Hennigh, 2003; e Condemarin e Blomquist, 1989] defendem que os professores precisam de ser observadores atentos e devem possuir conhecimento acerca da forma como os seus alunos lêem. Caso algum aluno apresente padrões de leitura que apontem para uma possível Dislexia, o professor deverá então aplicar ao aluno testes informais de leitura de forma a comprovar, ou não, as suas suspeita.
Esta informação foi retirada de um site que surgiu da dinâmica pedagógica implementada na disciplina de Planificação e Desenvolvimento Curricular da Pós Graduação/especialização em Educação Especial (Domínios Cognitivo e Motor) promovida pelo INUAF - Instituto Superior D. Afonso III sob a responsabilidade da Prof Sofia Malheiro da Silva.