terça-feira, 29 de maio de 2012

Sinto Muito de Nuno Lobo Antunes



É um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela.
Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor.
Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.



Excerto
«Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. 
Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba. 
O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio.»
Do prefácio de António Damásio

Nuno Lobo Antunes



Ontem, proporcionado pela Apatris 21, tive o prazer de ouvir este senhor falar sobre suas experiências e conhecimentos sobre Síndrome de Asperger. Fantástico!

Criança hiperactiva regressou às aulas em Viana do Castelo


Seis dias depois de ter sido afastado da escola, o menino de seis anos que na quarta-feira passada foi impedido, pelo agrupamento de escolas do Atlântico, de frequentar as aulas, alegadamente devido ao seu comportamento hiperactivo, regressou, ontem, à escola primária da Avenida, em Viana do Castelo. 

A direcção do agrupamento concluiu que o seu comportamento "estabilizou" devido à alteração da medicação decidida pela equipa médica que o acompanha desde Setembro passado. No entanto, o regresso será "parcial", uma vez que a criança, ao contrário do que acontecia até agora, vai passar a almoçar em casa, de forma a evitar o "período de maior agitação" que se regista habitualmente nas cantinas escolares e que foi identificado como sendo "uma fonte de perturbação".

A decisão de fazer regressar a criança às aulas e ao convívio dos colegas foi tomada numa reunião, realizada sexta-feira passada, que sentou à mesma mesa os avós, que assumiram a tutela do menino desde o primeiro ano de vida, a direcção da escola e a pedopsiquiatra do Hospital de Viana que segue o menino desde o início do ano lectivo. 

Fonte da direcção do agrupamento explicou que a decisão de interromper as refeições na cantina da escola foi sugerida pelos encarregados de educação e recolheu o apoio de todos os intervenientes no encontro. "Tem a ver com o processo de integração que é necessário assegurar", disse ainda a fonte.

Apesar do acordo alcançado, a escola reconheceu que nesta altura o acompanhamento da criança vai ser "limitado", uma vez que a professora do ensino especial se encontra de baixa médica. "Temos um problema de recursos, o que faz com que tenhamos de reformular a estratégia", acrescentou a mesma fonte. 

Depois de ter deixado a criança na escola, Vítor Araújo, avô, afirmou aos jornalistas que faltou "diálogo neste processo para evitar que a situação chegasse a este ponto". "É preciso proteger o meu neto. É uma criança de seis anos, não é nenhum bicho. Já basta o que ele tem passado. Nós esforçamo-nos para que ele tenha uma vida melhor", afirmou. No regresso às aulas, o menino prometeu ao avô que ia portar-se melhor. "Ele gosta de vir à escola."

A situação e os alegados conflitos gerados pela criança, na turma do primeiro ano, são conhecidos desde Setembro. A alegada violência exercida sobre alguns colegas, professores e auxiliares veio a público em Novembro quando os encarregados de educação de 15 das 20 crianças da sala decidiram impedir os filhos de frequentar as aulas. Consideravam não estarem reunidas "condições de segurança" para o efeito. A maioria acabaria mesmo por optar pela transferência de estabelecimento de ensino.

No passado dia 18 tudo se voltou a complicar na sequência de uma crise de hiperactividade que conduziu à suspensão da criança.

Fonte: Público

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A dislexia das crianças e a dislexia dos que mandam

Santana Castilho *

1. O júri nacional de exames (JNE) recusou que a uma aluna de 14 anos fosse lido o enunciado do exame a que se submetia, obrigatoriamente. A aluna é disléxica. A leitura era prática seguida há anos. Aparentemente, a questão resume-se a saber se a um aluno disléxico devem ou não ser lidos os enunciados dos exames. O JNE diz que não. Os especialistas dizem que sim, pelo menos em casos determinados, dependendo da dificuldade do aluno. No caso em apreço, a escola da aluna recomendou a leitura. A terapeuta que a assiste também, aliás secundada pela respectiva direcção regional. Alega o JNE que os alunos disléxicos têm uma tolerância de 30 minutos relativamente ao tempo de duração das provas e são classificados segundo regras concebidas para que as suas limitações não se reflictam no resultado final. O JNE invoca uma generalização de abusos quanto a condições especiais, que se tornaram regra para alunos disléxicos. Da literatura disponível sobre a matéria inferem-se factos, a saber: a dislexia é uma limitação do foro neurológico, com diferentes graus de gravidade; uma dislexia moderada pode dispensar a leitura do enunciado dos exames, mas uma dislexia severa não; assim, alguns disléxicos podem cognitivamente dominar um saber e prová-lo se interrogados oralmente, embora não consigam entender ou sequer ler a pergunta, se esta for formulada por escrito. Num exame de Matemática, por exemplo, mede-se um conhecimento específico que um aluno pode deter em grau máximo, apesar da sua dislexia severa. Mas não o conseguirá provar se as questões estiverem escritas. Num exame de Português, o mesmo aluno pode ter uma fina capacidade de interpretar um texto complexo que lhe seja lido. Mas não entenderá coisa alguma se for obrigado a lê-lo. Pode o Estado certificar proficiência em leitura a um aluno com uma dislexia severa? Não. Mas não pode deixar que a limitação do aluno se reflicta noutras áreas do conhecimento, somando à respeitável penalização da natureza humana com que aquele aluno nasceu, outra penalização, desta feita nada respeitável. Porque entre o tempo em que se fechavam em galinheiros crianças deficientes e hoje houve um percurso, embora a tónica esteja agora posta em retrocessos a que chamam progressos. Não é redundante, por isso, recordar a alguns disléxicos que mandam que estão para breve mais exames a que se submeterão mais alunos disléxicos, com níveis de conhecimento que nunca poderão demonstrar se os econometristas da moda persistirem em confundir velocidade com toucinho, uma recorrente dislexia política dos tempos que correm.

2. Passos Coelho e Miguel Relvas, que se saiba, não são disléxicos, por via neurológica. Mas dão sinais preocupantes de dislexia política. As afirmações do primeiro sobre a ventura feliz que o desemprego constitui, demonstraram uma profunda incapacidade de leitura do drama social dos portugueses desempregados. E a censura cínica que lhes dirigiu por preferirem ser assalariados a “empreendedores” (ele que, no curto tempo em que desempenhou alguma actividade produtiva se acolheu prudentemente ao Estado e a Ângelo Correia) mostra que não sabe, também, ler dados estatísticos. É que, se por um lado Portugal é o quarto país da OCDE que mais empresários tem, por outro, três quartos das empresas criadas ficam insolventes nos primeiros anos de actividade. Se esta dislexia for recuperável, perceberá um dia, tarde, que as causas do desastre, a que ele chama sorte, são outras. Começando por ele e pelo seu pensamento fundamentalista, socialmente darwinista.

Quanto ao homem do avental, ele que ousa dissertar sobre “jornalismo interpretativo”, acometido que parece de dislexia político/comunicacional (que generoso estou, não falando de pulsões chantagistas), avanço propostas terapêuticas para a interpretação do “texto”, que qualquer assessor lhe pode ler:

- Diga, em adenda à carta que dirigiu à Entidade Reguladora para a Comunicação Social, se sim ou não ameaçou a jornalista Maria José Oliveira com a publicação de dados sobre a sua (dela) vida privada.

- Diga, do mesmo passo, como saneia uma aparente contradição, quando depois de garantir que conheceu o ex-espião Jorge Silva Carvalho depois de Março de 2010, referiu na Assembleia da República ter dele recebido um “clipping” reportando uma visita de Bush ocorrida … em 2007. Esclareça se era habitual Silva Carvalho fazer “remakes” do “Canal História”, via SMS.

Claro está que isto é retórica de escriba. De escriba que expôs ao ministro Relvas, acabado de empossar, uma estranha “dislexia”, que continua por tratar ou explicar. Ainda os casos Nuno Simas e Pedro Rosa Mendes vinham longe.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

Fonte: Aventar

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Criança de seis anos impedida de frequentar escola por ser hiperativa

Uma criança, de seis anos, foi hoje impedida pela direção escolar de frequentar o estabelecimento de ensino, em Viana do Castelo, por alegadamente estar "suspensa" devido ao comportamento hiperativo e nem a intervenção da PSP permitiu inverter a situação.
Durante cerca de uma hora, a criança e os avós, que assumiram a tutela desde o primeiro ano de vida do menor, estiveram à porta da Escola da Avenida, na cidade de Viana do Castelo, mas da parte da direção receberam apenas o pedido para terem "paciência" e que a criança estava "suspensa" devido ao seu comportamento.

"Ele é hiperativo, não para um segundo e isso é verdade. Não tem mais nada de especial e estava a ser acompanhado por uma especialista aqui na escola, porque em casa o comportamento é praticamente normal", explicou Vítor Araújo, o avô.

A situação e os alegados conflitos da criança na turma do primeiro ano que frequenta naquela escola são conhecidas desde setembro, nomeadamente com episódios de violência até sobre alguns colegas, professores e auxiliares, mas tudo se agudizou na semana passada.

"Numa destas crises, partiu uma janela e o Agrupamento de Escolas deu ordem que quando acontecesse alguma coisa do género tinha de ir para o hospital. Mas nós só fomos avisados quando ele já estava lá", acrescentou Ana Paula Silva, a encarregada de educação, que trabalha a poucos metros da escola.

A criança, que alegadamente reage mal quando contrariada, passou os dias de sexta, segunda e terça-feira sem ir à escola e fez, entretanto, nova troca de medicamentos "para tentar ajustar o comportamento", até que hoje se preparava para regressar.

"Aqui à porta disseram-me que ele está suspenso, não pode frequentar a escola e que para a semana haverá uma reunião entre todas as partes para decidir. Enquanto isso, esteve a ver os colegas a entrarem e ele sem o poder fazer. Isto é revoltante para qualquer pessoa", desabafou ainda.

Os avós chamaram a PSP de Viana do Castelo ao local e apresentaram queixa sobre o impedimento da criança em frequentar a escola, nomeadamente por não terem qualquer justificação para esta suspensão e tendo em conta a sua idade e falta de alternativas da própria direção.

A Agência Lusa contactou a diretora da Escola da Avenida para tentar obter explicações sobre este caso mas esta remeteu qualquer comentário para o Agrupamento de Escola do Atlântico.

Por sua vez, e apesar das insistências dos jornalistas, ninguém da direção daquele agrupamento se mostrou disponível para prestar declarações.

A criança acabou por regressar a casa com os avós, que ainda não decidiram se, na quinta-feira, voltam a tentar levar o menor à escola.

Fonte: JN

Comentário:

  • Perante esta notícia pergunto-me: 
Estará esta criança abrangida por medidas do Decreto-lei 3/2008 - Educação Especial? 
Pela expressão "estava a ser acompanhado por uma especialista aqui na escola" indica-nos que sim e que não será um caso simples de hiperatividade porque senão seria facilmente controlada pela medicação.

Provavelmente as pessoas, na sua maioria, terão uma opinião que vai contra a decisão da escola pois irão questionar a falta de medidas apresentadas pela escola... ora, estamos em Maio, ultrapassamos mais de metade do ano letivo e só agora a medida de suspensão foi aplicada. Conjeturo que a escola (e a equipa que acompanha o aluno) terá tentado de tudo para harmonizar a inclusão deste aluno.

  • Agora pergunto-vos: 
Conseguem imaginar o que as pessoas que trabalham com este menino já sentiram ou sentem?! 
Eu consigo e digo-vos mais quem ama a camisola que veste sofre muito com estas situações... e quando falamos do dito "acompanhamento do especialista" falamos certamente de um professor de Educação Especial. 

  • Sugiro:
Atenção ao título desta notícia. A hiperatividade por si só não é justificação. Não julguem sem antes saber quais os antecedentes!



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Síndrome de Down: Seleção lusa campeã do mundo

A seleção portuguesa de atletismo para atletas com síndrome de Down sagrou-se, este domingo, campeã do mundo da modalidade. A competição decorreu durante três dias no Estádio João Paulo II, em Angra do Heroísmo nos Açores, e Portugal foi o grande vencedor, deixando para trás desportistas de 12 países. 
"Era um sonho que acalentávamos. Vir aos Açores, organizar o segundo campeonato do mundo em nossa casa e, se possível, ter a cereja no topo do bolo e ela está aqui", afirmou o selecionador nacional, Costa Pereira, em declarações à Lusa.
A atleta Maria João Silva, natural do Pico, esteve em grande destaque ao conquistar três medalhas de ouro. As medalhas foram obtidas nas provas de 1.500 e 800 metros marcha e em estafeta e deram uma contribuição decisiva para o resultado final, ajudando a colocar Portugal no cimo da classificação.
«Ela é campeã da Europa e duplamente campeã do Mundo», salientou Costa Pereira, lembrando que a atleta açoriana do Centro de Atividades Ocupacionais da Santa Casa da Misericórdia da Madalena, na sua ilha natal, detém os recordes em todas as distâncias.
Depois de todas as provas disputadas, Portugal somou um total de 334,5 pontos, contra os 196,5 da Venezuela, segunda classificada, e os 169 da África do Sul, que ficou em terceiro lugar no mundial.

A próxima edição do Campeonato do Mundo de Atletismo para atletas com síndrome de Down realiza-se dentro de dois anos, desta vez na África do Sul.

sábado, 19 de maio de 2012

Encarar o erro noutra perspectiva



Porque é que, às vezes, existe tanta dificuldade por parte da criança em enfrentar ou em lidar com o erro? Porque é que ela por vezes desiste de tentar, fica sem vontade de realizar as tarefas, fica “presa” na frustração, promete que vai fazer e depois não faz, mente, tenta tudo para evitar a confrontação…?Como encarar o erro noutra perspectiva? 

Quem é que não comete erros, especialmente uma criança? Já Jean Piaget (1896-1980), psicólogo e biólogo suíço, dizia que as crianças estão constantemente a pôr à prova as suas próprias ideias sobre o que as rodeiam. E disto resultam erros como é evidente. O errar e o aprender caminham lado a lado e não há dúvida de que as crianças nascem com sede de aprender. Os seus comportamentos servem o seu desejo de conhecimentos, de pesquisa e de curiosidade intelectual. Todos os seus circuitos neuronais estão predefinidos neste sentido. Então porque é que, às vezes, existe tanta dificuldade por parte da criança em enfrentar o erro?

Muitas vezes, é a incoerência, repetida e persistente,manifestada com o que a criança está a sentir com um determinado comportamento, que lhe é imposto ou atitudes por parte do adulto que desvalorizam a sua tentativa, que acaba por bloquear o seu desejo de aprender. Insidiosamente, vão-se formando bloqueios nos seus processos emocionais, que permanecem bem vivos na mente da criança à espera de serem expressados e finalizados, que lhe retiram a “energia” necessária para se dedicar ao prazer de aprender.

O caro leitor deve provavelmente estar a perguntar-se a si próprio, tendo em conta o parágrafo anterior, se não serão os adultos os principais responsáveis (de forma não consciente) pelos comportamentos inadequados da criança em lidar com os erros? Sim sem dúvida que são! Porque a criança precisa do adulto para sentir-se apoiada na sua tentativa de ultrapassar a sua dificuldade. É preciso ter sempre presente que é a criança que se encontra em crescimento e as atitudes do adulto próximo dela, quer se queira quer não, são determinantes para isso.

Quando a criança erra e para que ela mantenha, canalize, a sua energia para continuar a manifestar o seu desejo de aprender, não é aconselhável incutir-lhe medo, humilhações, gritos, dramatizar ou fazer comparações que a façam pensar que os outros são melhores do que ela. Uma boa forma para se evitar esta situação consiste em dar-lhe a atenção necessária para que ela se possa expressar, possa manifestar o seu desagrado, a sua frustração, sem tentar querer evitar o que está a sentir, mas, sim, ajudá-la a aceitar o facto. Esta maneira de agir, sempre sem a querer julgar, criticar, ou humilhar demonstra um interesse sincero por aquilo que a criança está a sentir e/ou nos está a dizer. Portanto, deve evitar-se a todo o custo interromper a criança quando ela começa a falar do seu problema impedindo-a, assim, de continuar a expressar-se. Claro que a intenção é boa mas tem um impacto contraproducente na criança: as incoerências acumulam-se originando nela crescentes mal-estares que emnada alimentam nem a sua autoestima nem a sua autoconfiança. Contudo, é fundamental que ela obtenha esta“alimentação” psicológica para ter energia e estar, assim, mais motivada para enfrentar os seus erros e aprender com eles.

COMO SE PODE AGIR, ENTÃO, MAIS DETALHADAMENTE, COM UMA CRIANÇA?

Como primeiro passo, um olhar afectuoso permite à criança sentir-se compreendida e aceite no seu erro. Em certas situações, um abraço caloroso, do pai ou da mãe, é uma mais-valia para ela se sentir mais segura. A seguir pode-se ajudá-la a identificar e a verbalizar aquilo que está a sentir, por exemplo: “Estás triste!” ou ainda “Vejo que estás aborrecida, frustrada ou com medo.” E depois desta identificação emocional e da sua expressão, perguntar-lhe, por exemplo: o que é que ela acha da sua experiência, quais são as conclusões que se podem retirar, o que é que não correu bem? Desta forma, a criança ficará mais preparada para tirar proveito da sua experimentação, reflectir sobre a mesma e, indeclinavelmente, ficar mais motivada para a tentar novamente! Em certos casos, ela pode não saber como actuar e só depois de se lhe ter dado esta oportunidade de se expressar se deverá mostrar-lhe o caminho mais adequadopara o fazer. Mesmo assim, à medida que a orientação for desenvolvida é conveniente estar sempre atento ao que a criança possa estar a sentir e dar-lhe espaço suficiente para se expressar ficando-se sempre vigilante à forma como ela reage e actuar sobre isso antes de continuar com o assunto. PORQUÊ TANTO CUIDADO? Porque se a criança se “desliga” mentalmente da conversa e se a mesma se mantiver ou se impor, então esse diálogo, torna-se infrutuoso. Se o adulto não se aperceber destas situações fica com a sensação de ter feito algo de bom mas que não corresponde à realidade. Um exemplo disto são os “sermões” que os nossos pais nos davam e que ao fim de 10 segundos já não estávamos a ouvir nada … de que serve um sermão se quem o ouve não o escuta?

No contexto escolar, o documentário da reportagem supra, sobre um actual estudo francês, revela o interesse pelo erro para se aprender e, ao mesmo tempo, o impacto do medo de errar nas crianças. A conclusão, na sua forma ainda hipotética, é que se a escola ensinasse à criança o andar de bicicleta, da mesma forma que a criança é enquadrada para aprender certos conteúdos, ou seja sem nunca cair nem errar, ela teria muita dificuldade em aprender a andar de bicicleta, ou mesmo até algumas nunca aprenderiam.




quinta-feira, 17 de maio de 2012

Associação reclama leitura de exames para disléxicos

A Associação Portuguesa de Dislexia (Dislex) considera que a decisão do Júri Nacional de Exames (JNE) de recusar a leitura do enunciado da prova a alunos disléxicos prejudicará milhares de estudantes. A Dislex fez uma petição onde exige a alteração das orientações. 

Perante o caso de uma aluna disléxica a quem o JNE recusou apoio na realização dos exames de 9.º ano; a Dislex lembra os estudantes do secundário, que estão prestes a realizar exames de acesso ao ensino superior. 

“Apesar de isso não estar legislado, é prática corrente nos exames de 9.º, 11.º e 12.º anos a prova ser lida a um disléxico, precisamente como é lida a alguém que tenha cegado recentemente”, disse ao PÚBLICO Helena Serra, presidente da Dislex, sublinhando que "a mudança vai ter efeitos dramáticos” na vida desses alunos.

Num documento que circula em forma de petição e que foi enviado a várias entidades, entre as quais a Assembleia da República e o Ministério da Educação, a presidente da Dislex considera que a decisão do JNE revela "total alheamento” em relação às características e necessidades” de alunos com dislexia. “O seu principal problema reside precisamente na compreensão da leitura (lentidão, hesitações, alterações, confusão ou não articulação das ideias com desfocagem de respostas); no bloqueio emocional e possível desistência que a pressão da situação lhes causa." argumenta. 

Helena Serra, investigadora, professora e autora de várias obras sobre psicopedagogia especializada, foi precisamente a autora da "Ficha A" – que é validada pelo JNE e procura garantir que os alunos com dislexia não são penalizados por erros ou omissões cometidos na resposta escrita às questões. A investigadora assegura, contudo, que aquele instrumento é “insuficiente” e considera “incompreensível” que seja recusada a leitura da prova a alunos que, “com também essa adequação, revelam os saberes exigidos e, às vezes, uma ainda maior criatividade do que os outros, em geral”.

Outros casos

Segundo a dirigente da Dislex, apesar de o caso da menina do 9.º ano a quem foi recusada a leitura do teste ter sido mais mediatizado, “a preocupação é vivida em milhares de escolas e de famílias”. Para a explicação do problema e da forma como ele é sentido remete para um requerimento apresentado ao JNE por uma professora de uma escola do ensino secundário, que, nota, tem investigação aprofundada “na área da compreensão leitora” dos disléxicos.

No texto em que reitera o pedido de leitura de prova para dois dos seus alunos, um do 11.º, outro do 12.º ano, aquela docente, Maria de Fátima Almeida, admite que “poderá haver alunos disléxicos que, devido a uma intervenção precoce adequada, tenham desenvolvido todas as competências instrumentais necessárias a uma leitura compreensiva”. Sublinha, contudo, que “partir-se do princípio de que todos os alunos disléxicos desenvolveram essas competências e, portanto, compreendem o que lêem, vai contra aquilo que os estudos centrados na compreensão da leitura, nomeadamente de alunos disléxicos, mostram”. 

“Os alunos que frequentam o 3.º ciclo e o ensino secundário, até já poderão efectuar uma leitura aparentemente fluente e com uma velocidade próxima do esperado”, mas “mantêm uma dificuldade particular em descodificar palavras que não encontraram antes, e, em geral, têm dificuldades persistentes com a consciência fonológica, nomeação rápida e tarefas verbais de memória de curto prazo”, refere Maria de Fátima Almeida no documento. Aqueles défices, explica, resultam do facto de “a descodificação ocorrer não por automatização, mas como resultado de esforço”.

Os dois alunos desta docente, em particular, têm beneficiado da leitura dos enunciados ao longo do percurso escolar. Segundo explica na nota enviada ao JNE, com base na legislação que prevê adequações do processo de avaliação de alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente (Decreto-Lei n.º 3/2008). 

Aquela é, contudo, outra questão pouco pacífica, na medida em que, como refere Helena Serra, “a legislação não define que a dislexia é uma capacidade permanente”. “Os dados científicos indicam que sim, que ainda que os problemas sejam atenuados, nunca são completamente resolvidos. Para além disso, têm de ser tido em conta os diferentes graus de gravidade da dislexia”, diz Helena Serra. Realça, a propósito, que “não é por acaso que, ao adequarem as formas de avaliação a cada um dos alunos, os professores, nas escolas, têm entendido que muitos dos que têm dislexia necessitam, entre outros apoios, da leitura orientada”.O JNE tem outra perspectiva, como se percebe da apreciação que faz numa nota enviada à comunicação social, a propósito da queixa da mãe da criança a quem foi negada a leitura do enunciado. Nela escreve, de forma crítica, que “algumas escolas generalizavam certas condições especiais de realização das provas de uma forma pouco criteriosa, em particular a medida ‘leitura de enunciado por um professor’”.

Dizendo basear-se na legislação em vigor, o JNE determina que nas provas nacionais os alunos com dislexia podem usufruir de uma tolerância de 30 minutos, além do tempo fixado para as provas; e ainda que são classificados de forma específica, com base na “Ficha A”. É taxativo na afirmação de que àqueles estudantes, “cujas provas de avaliação externa são já classificadas com o apoio da Ficha A (…), não pode ser autorizada a leitura dos enunciados”.

Aquela ficha contém informação relativa às dificuldades específicas de cada aluno disléxico, podendo ser assinalados, na área da expressão escrita, campos associados ao desenvolvimento linguístico, à ortografia, aos traçados grafomotores e à linguagem quantitativa”. Em todos estes campos, sempre que são assinalados com dificuldades específicas da dislexia de cada aluno, “o professor classificador pode adaptar os critérios de classificação das provas de forma a não penalizar o aluno pelos erros ou omissões cometidos”, aponta o JNE.

Em resposta ao PÚBLICO, o JNE esclarece que "aos alunos disléxicos do ensino secundário não será autorizada a leitura do enunciado das provas de exame, à semelhança do que acontece há vários anos. Em anos transactos existiram autorizações nesse sentido em casos muito pontuais e excepcionais". Assim, o JNE pode autorizar a aplicação da 'Ficha A' e a tolerância de 30 minutos. "Em casos muito particulares o JNE autoriza mais 15-30 minutos", acrescenta.

O PÚBLICO perguntou ainda ao ministério quantos pedidos foram feitos, recusados e autorizados para leitura da prova para alunos disléxicos mas o ministério não respondeu.


Fonte: Público

terça-feira, 15 de maio de 2012

Implante ocular permite recuperar a visão

Cientista Eberhart Zrenner e a empresa Retina Implant AG desenvolveram um implante ocular capaz de recuperar a visão de quem sofre de retinite pigmentosa .

A empresa alemã Retina Implant AG desenvolveu um dispositivo ocular que permite a algumas pessoas com retinite pigmentosa e que perderam a visão, passarem a ver e a identificar objetos.

Este dispositivo consiste numa plataforma eletrónica, com três milímetros quadrados, que é revestida por 1500 sensores que reagem à luz. Cada sensor ativa um pulsar eletrónico que estimula os nervos ligados ao cérebro. Os pacientes veem uma imagem rudimentar a preto e branco.

O cientista alemão Eberhart Zrenner liderou a pesquisa e afirma que "as funções visuais dos pacientes podem, em princípio, ser restauradas até um grau suficiente de uso para o quotidiano."

Eberhart Zrenner, que é o presidente da Retina Implant, disse ainda que espera melhorar a imagem que o dispositivo disponibiliza. "O nível de visão é rudimentar mas estamos a falar de pôr alguém que é completamente cego a andar por aí sem a ajuda de um cão-guia", acrescenta.

Nova esperança contra a perda de visão

O dispositivo foi testado em três pacientes alemães que foram capazes de ver objetos como um copo, um pires e uma banana. Um deles foi capaz de ler o próprio nome, andou sozinho pela sala, identificou a hora num relógio e distinguiu sete tons de cinzento.

Os três alemães em que este dispositivo foi testado sofrem de retinite pigmentosa, um problema genético que afeta as células na retina e que gradualmente leva à total perda de visão.

A cirurgia que irá colocar o implante nas retinas dos três pacientes de forma definitiva está marcada para daqui a alguns dias.

Esta investigação científica foi elaborada apenas para as vítimas deste problema oftalmológico.

Fonte: Expresso

Os filhos fazem com que os pais sejam pessoas mais felizes?

Dois novos estudos quebram a linha de investigações anteriores que concluíam que as famílias com filhos eram menos felizes, mais deprimidas e tinham casamentos menos satisfatórios do que os casais sem filhos. Esta terça-feira é o dia internacional da família. 

Dois estudos que analisaram um total de 130 mil adultos apontam para a conclusão de que, actualmente, as pessoas que têm filhos podem ser mais felizes do que os casais sem filhos. Uma das investigações foi realizada com casais a viver na Alemanha e no Reino Unido e outra com feita com base nas respostas das famílias norte-americanas a dois inquéritos nacionais. Os trabalhos foram apresentados no encontro anual da Population Association of America, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo de questões populacionais, e divulgados pelo jornal USAToday. 

“Não encontrámos nenhuma prova que indique que o bem-estar parental diminua depois do nascimento de uma criança. Encontramos dados que confirmam que o bem-estar aumenta enquanto as pessoas estão a planear e a esperar o nascimento de uma criança e também no primeiro ano de vida do filho”, assinala o estudo realizado por investigadores do Max Planck Institute, na Alemanha. Os cientistas que analisaram “os níveis de felicidade” de casais britânicos e alemães, durante cinco anos antes de ter um filho e nos cinco anos seguintes ao nascimento, concluiram que o impacto de um filho é, de forma geral, positivo. Os níveis de felicidade dos pais foram comparados com os níveis que estas mesmas pessoas tinham quando não tinham filhos. 

O estudo europeu considera que há factores, como a idade, que podem ter uma importante influência no bem-estar. Segundo explicam, as pessoas que se tornam pais em idades mais jovens têm uma maior tendência para uma redução da sua felicidade enquanto que os que têm os filhos mais tarde conseguem níveis mais altos de felicidade após o nascimento da criança. Por outro lado, os investigadores notaram ainda outro dado interessante: a felicidade vai mudando com o número de filhos. “O primeiro filho aumenta significativamente a felicidade. O segundo aumenta um pouco, e o terceiro já não aumenta de todo”, nota Mikko Myrskylä, co-autor da investigação

Felicidade dos que não têm filhos

Um outro estudo analisou os dados de dois inquéritos realizados nos EUA entre 1972 e 2008 e concluiu algo diferente. As respostas mostram que os pais eram menos felizes do que as pessoas sem filhos na década entre 1985-95 mas daí para a frente (até 2008) revelam que os pais são mais felizes. 

Chris Herbst, investigador da Arizona State University e co-autor do estudo, avança com uma explicação sugerindo que o nível de felicidade dos pais não aumentou de facto. O que diminuiu, defende, foi a felicidade das pessoas sem filhos o que faz com que os pais pareçam mais felizes por comparação. Segundo este investigador, não é possível afirmar com certeza se a generalidade dos pais é menos feliz do que alguém sem filhos. Mas, adianta, “é inegável, no entanto, que ao longo das últimas décadas os pais se tornaram mais felizes do que as pessoas que não têm filhos”. 

Os estudos divulgados no encontro da Population Association of America tocam um tema polémico e sugerem alguns problemas em investigações anteriores – que concluíam que as famílias com filhos eram menos felizes, mais deprimidas e tinham casamentos menos satisfatórios do que os casais sem filhos – criticando métodos de análise da informação disponível. Até agora, a maioria dos estudos indicava que a felicidade dos casais podia ser lida como um gráfico em forma de U, em que existe um pico na altura do casamento e enquanto não existem filhos, uma quebra quando eles nascem e depois uma recuperação para os níveis anteriores, à medida que os filhos vão ganhando a sua autonomia. 

A notícia do USAToday foi alvo de muitos comentários e mostra como o assunto é delicado e discutível. Entre os leitores que fizeram questão de dar a sua opinião sobre o assunto há quem defenda que não seria nada sem os seus preciosos filhos e também quem festeje o facto de nunca os ter tido. Depois há ainda muitos comentadores que questionam os resultados do estudo alegando, entre outros argumentos, que a noção de felicidade inclui muitas variáveis difíceis de analisar. Por fim, há quem simplesmente conclua que esta felicidade depende acima de tudo de um ponto fulcral: ter um filho ou não o ter foi resultado de uma escolha? Se a resposta é afirmativa, provavelmente as duas partes tem motivos para estar felizes.

Fonte: Público

domingo, 13 de maio de 2012

Inspecção recomenda formação em educação especial para docentes do ensino regular

A Inspecção-Geral da Educação recomendou nesta quinta-feira, no Parlamento, formação específica para os educadores de infância e professores do ensino regular, devido à integração de alunos com Necessidades Educativas Especiais nestas turmas. 


De acordo com a equipa liderada pela nova inspectora-geral, Maria Helena Dias Ferreira, é necessária formação não tanto para os docentes do ensino especial, mas para os restantes professores com os quais tem de ser feita a articulação da resposta a estas crianças. “A educação especial ainda parece algo distante. Depende muito da cultura de cada escola”, afirmou o inspector Pedro Valadares durante uma audição promovida pelo grupo de trabalho dedicado a esta temática no Parlamento e que integra deputados dos vários partidos. 

Durante a acção desenvolvida no último ano lectivo em 46 escolas, os inspectores detectaram problemas ao nível das orientações curriculares individuais. Entre as várias medidas preconizadas para a educação especial, a que tem a ver com as adequações curriculares individuais pareceu-lhes “a mais complicada”, por alguns docentes a entenderem como subtracção de conteúdos do currículo e terem dificuldade em adaptar alterações aos programas. 

“Deve ter-se em conta o currículo comum”, defendeu o inspector, alertando para possíveis problemas se os alunos forem confrontados com exames nacionais. No final da audição, explicou à agência Lusa que ainda não houve problemas porque os exames são feitos ao nível de escola, mas poderão colocar-se dificuldades a estes alunos do Ensino Básico se passarem a realizar exames nacionais. “Em alguns casos traduz-se em pedagogia subtractiva”, disse o inspector, acrescentando que muitos alunos têm “uma medida desadequada”, que virá a perceber-se a jusante “perante um exame”. 

Segundo Pedro Valadares, a inspecção detectou “algum défice de formação” entre os professores fora do grupo da educação especial que tem formação específica para trabalhar com estes alunos. Os inspectores detectaram também problemas com a gestão de recursos. Sem se pronunciarem sobre o número de funcionários, reconheceram que pode ser “algo penoso” trabalhar neste contexto, onde se verifica “algum absentismo”. 

A inspecção verificou igualmente que ainda existem escolas sem as acessibilidades adequadas, embora em “número residual”, devido às obras de modernização que têm sido efectuadas. A educação especial não é assumida na maioria das escolas como elemento estratégico do desenvolvimento organizacional, segundo o relatório da Inspecção-Geral da Educação para 2010-2011. 

No documento “Educação Especial - Respostas Educativas” lê-se que algumas escolas assinalam como dificuldade a “ausência de serviços de psicologia e orientação” ou o “trabalho em acumulação” destes profissionais em diferentes escolas, o que “afecta tanto os procedimentos de avaliação especializada” como a elaboração do relatório técnico-pedagógico. O Grupo de Trabalho da Educação Especial tem promovido audições sobre esta matéria, no sentido de recolher contributos para melhorar a legislação.

Fonte: Público

Negada leitura de enunciado a aluna do 9.º ano com dislexia

Uma aluna com dislexia viu negada pelo Júri Nacional de Exames a possibilidade de realizar as provas finais do 9.º ano em sala separada com leitura de enunciados, uma medida que tem feito parte do seu percurso escolar.

«A Constança fez assim [nestas condições] as provas de aferição do 6.º ano e teve B (Bom) a Língua Portuguesa, o problema é a leitura, precisa que um professor leia os enunciados e ela responde», contou a mãe à agência Lusa, enquanto diligencia junto do Ministério da Educação para resolver o problema da filha de 14 anos, com dislexia profunda.

No processo, a que a Lusa teve acesso, constam recomendações da escola, em Odemira, da terapeuta, e até um despacho favorável da Direção Regional de Educação do Alentejo para que seja atendido o pedido da encarregada de educação, Mafalda Alves.

Para o Júri Nacional de Exames (JNE), os alunos com dislexia só podem usufruir de uma tolerância de 30 minutos na realização das provas e de critérios próprios de correção.

«Um aluno com necessidades educativas especiais de caráter permanente se não dominar as aprendizagens e conhecimentos de Língua Portuguesa (domínio da leitura, do funcionamento da língua e da escrita) e de Matemática, não tem condições de frequentar estudos de nível secundário», escreveu o JNE em resposta à solicitação.

Indignada, a mãe questiona se a escolaridade não é obrigatória: «Isto é inacreditável».

A informação conjunta do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) e do JNE refere que podem ser abrangidos por provas adaptadas de final de ciclo e exames nacionais alunos cegos, com baixa visão ou limitações motoras severas.

Para a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), não fazem sentido «as considerações» do JNE sobre a capacidade da aluna prosseguir ou não os estudos para o secundário antes de fazer os exames.

«É ridículo todo o conjunto de considerações do JNE e, na minha opinião, até contraria a garantia dada pelo ministro na Assembleia da República de que os alunos com NEE fariam as provas com as adaptações necessárias», disse à Lusa o presidente da CONFAP, Albino Almeida, sugerindo a reapreciação do processo.

Para a Constança o tempo escasseia. As provas do 9.º ano realizam-se no próximo mês. A mãe tem ainda esperança de que a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, Isabel Leite, avalie os documentos que lhe remeteu.

«Não é só pela minha filha, a Constança tem uma mãe que estuda todos os dias com ela em casa. É uma miúda que sabe e tem superado provas incríveis, mas muitas outras crianças serão confrontadas com estas dificuldades», defendeu.

Mafalda considera injusta a resposta que obteve do JNE e espera que outras crianças possam ser abrangidas pela medida que pede para a filha, mesmo sem serem cegas, surdas ou portadoras de graves deficiências motoras.

A Lusa questionou o Ministério da Educação, que remeteu uma resposta do JNE, em que pode ler-se que aos alunos com dislexia «não pode ser autorizada a leitura dos enunciados».

A Constança é portadora de Défice de Atenção, Motricidade e Perceção (DAMP) e Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem (PEDL), que estão na origem da dislexia e da disortografia, segundo o relatório que acompanha o processo.

Porém, é capaz de responder corretamente a questões de interpretação quando lhe são lidas.

O JNE diz ainda que algumas escolas «generalizaram certas condições especiais de realização das provas de uma forma pouco criteriosa, em particular a medida ¿leitura de enunciado por um professor».

Fonte: TVI24

quinta-feira, 10 de maio de 2012

ESCLARECIMENTO - Provas Finais de Ciclo do Ensino Básico - Alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente (NEE)

Partilho um esclarecimento do Júri Nacional de Exames relativo às provas finais de ciclo do ensino básico para os alunos com necessidades educativas especiais. Esta informação foi remetida por uma colega, a quem agradeço publicamente o gesto. Em suma, não vem acrescentar nada às tomadas de posição do Júri Nacional de Exames relativamente à realização das provas por alunos com necessidades educativas especiais. Há a salientar o facto de, a cumprir-se a informação, o número de alunos com currículo específico individual ter tendência a aumentar exponencialmente, com todas as consequências pessoais e futuras que a medida implica... in Incluso


ESCLARECIMENTO
Provas Finais de Ciclo do Ensino Básico


Alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente (NEE)

O atual sistema de respostas a alunos com NEE assenta no princípio de que não pode ser negado a um aluno o direito de seguir o currículo comum, sempre que tal seja possível, nem o direito à avaliação, com as necessárias adequações, sempre que seja seguido o currículo comum. 

Nesse sentido, o Decreto-lei n.º3/2008 estabelece que os alunos com NEE devem beneficiar de medidas de acesso ao currículo nacional, entre as quais, apoio pedagógico, tecnologias de apoio e adequações curriculares.

Estes alunos, tal como em anos anteriores, podem beneficiar de condições especiais na realização das provas de âmbito nacional, como a utilização de tecnologias de apoio e equipamento ergonómico, tolerância de tempo, reescrita de prova por um docente, registo em folha de prova das respostas que o aluno ditar, presença de intérprete de Língua Gestual Portuguesa e enunciados adaptados pelo Gabinete de Avaliação Educacional (em braille e em formato digital para ampliação), condição especial na classificação das provas de alunos disléxicos, entre outros, mas respeitando sempre a aprendizagem do currículo comum.

Simultaneamente, os alunos do 6.º e 9.º ano cegos, com baixa visão, surdos severos ou profundos ou com limitações motoras severas que, relativamente à prova caracterizada na Informação-Prova final da responsabilidade do GAVE, necessitem de alterações nos instrumentos de avaliação ao nível da estrutura das provas e na tipologia e formulação dos itens, podem realizar provas finais a nível de escola nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática, as quais têm as adaptações formais necessárias às características de cada aluno, sem as quais estes não as conseguiriam realizar. A realização de provas a nível de escola nestas situações carece de autorização do Presidente do Júri Nacional de Exames. Neste grupo enquadram-se alunos que cegaram recentemente e ainda não dominam com fluência a leitura braille, alunos com baixa visão que têm muita dificuldade em ler texto ampliado em computador, alunos com surdez que apresentam grandes lacunas no domínio da Língua Portuguesa escrita e que ainda não dominam suficientemente a Língua Gestual Portuguesa ou, alunos com limitações motoras muito incapacitantes, situação que se traduz em grande morosidade da atividade e muito cansaço físico.

Existe, porém, um grupo de alunos com NEE que não consegue seguir o currículo nacional, mesmo que lhe sejam proporcionados meios excecionais de acesso. Para estes alunos, o Decreto-lei n.º3/2008 determina que possam seguir um currículo específico individual, feito à medida de cada um, focalizado no desenvolvimento de competências orientadas para uma vida futura com a máxima autonomia e integração familiar, profissional e social. Estes alunos, como é claramente compreensível, não estão sujeitos ao regime geral de avaliação, sendo esta definida e realizada em função do currículo que seguem.

Ora, de acordo com as orientações da Direção Geral de Educação, os alunos com necessidades educativas especiais do 6.º ano de escolaridade englobados no primeiro subgrupo, têm de realizar as provas finais de ciclo de âmbito nacional, embora com a aplicação das devidas condições especiais na sua realização mas, sem alterações no seu conteúdo. Assim, os estudantes devem ser preparados através da boa aplicação das diferentes medidas educativas, nomeadamente, apoios pedagógicos personalizados e condições especiais de matrícula previstos no referido diploma, estando as escolas dotadas de todas as condições para o fazerem. Não há qualquer motivo para que estes alunos, que já realizaram as provas de aferição no 4.º ano sem qualquer adaptação, não sejam avaliados com os instrumentos de avaliação de âmbito nacional, ainda que com a aplicação das condições especiais de realização necessárias, forma de garantir que estes alunos dominem os conhecimentos básicos de Língua Portuguesa e de Matemática para prosseguirem estudos no 3.º ciclo.

Em síntese, se os alunos com necessidades educativas especiais frequentam o currículo comum beneficiando das medidas de apoio pedagógico personalizado, tecnologias de apoio, adequações no processo de avaliação ou mesmo adequações curriculares individuais previstas na legislação, devem também ter acesso à avaliação comum realizando as mesmas provas de avaliação sumativa externa, podendo beneficiar de condições especiais na sua realização.

Acesso ao documento aqui ou na página do Júri Nacional de Exames.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Cafeína é benéfica para a hiperatividade nas crianças

Conclusão é de um estudo realizado por investigadores da Universidade de Coimbra

Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Coimbra concluiu que a cafeína é benéfica para tratar a hiperatividade das crianças. 

A administração de cafeína em doses equivalentes a três ou quatro chávenas de café por dia «controla o défice de atenção e hiperatividade, sem causar efeitos secundários», refere a Universidade em nota divulgada esta segunda-feira a propósito do estudo.

Atualmente a hiperatividade é controlada com a ritalina, fármaco derivado da anfetamina, que tem como um dos efeitos secundários a dependência.

«O que aqui se coloca não é dar café às crianças mas poder medicá-las com cafeína e identificar como ela atua» no cérebro, frisou o coordenador da investigação Rodrigo Cunha. 

Para este investigador, «é seguro afirmar que o consumo de café é benéfico em crianças e adolescentes, mas a clínica deve obedecer a todo um protocolo».

Os resultados obtidos carecem «de ensaios clínicos e, por isso, não devemos, ainda, recomendar aos cuidadores de crianças hiperativas a inserção de café na sua dieta», frisou o também docente da Universidade de Medicina.

A investigação, desenvolvida ao longo dos últimos três anos, demonstra que a cafeína «restabelece a função da dopamina enquanto neurotransmissor do cérebro (com um papel muito importante no comportamento e cognição)» e permite evidenciar «modificações que ocorrem no cérebro em situações de défice de atenção e hiperatividade».

A inovação do estudo desenvolvido pela equipa da UC e Centro de Neurociências de Coimbra está, segundo Rodrigo Cunha, «no uso da cafeína em modelos animais para tratar do défice de atenção, o que abre caminho para se confirmar se a sua administração no homem causa menores riscos que a anfetamina e, a partir daí, desenvolver um novo fármaco».

O estudo vai agora centrar-se no desenvolvimento de químicos semelhantes à cafeína, a serem validados em animais, disse o investigador, que procura financiamento fora do país.

«Estou neste momento a escrever uma proposta, a solicitar novo financiamento, mais uma vez aos Estados Unidos (National Institute of Health, que financiou o estudo pré-clínico)», disse o investigador, que viu o projeto ser recusado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Na Europa, sete por cento das crianças estão medicadas devido a défice de atenção e hiperatividade e estima-se que nos Estados Unidos sejam 20 por cento.

Esta patologia surge por volta dos nove anos de idade, segundo explicou o investigfador, e «atinge o pico» de modificação de comportamento, que afeta o dia a dia da criança no seu desempenho escolar e interação social, aos 13/14 anos, idade a partir da qual surge o «perfil claramente patológico».

Fonte: TVI 24

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Vendas de medicamentos para concentração aumentaram 78% em cinco anos

Ontem, um pediatra alertou para o facto de a ruptura de stock de um medicamento para a atenção poder empurrar crianças para o insucesso escolar e a reprovação. Vendas sugerem que há cada vez mais crianças e jovens medicados.


Quando B. chegou ao primeiro ciclo andava a correr à volta das carteiras na sala de aula. Hoje tem 12 anos e toma medicação para a concentração há dois. Marina, com sete filhos, vê o fenómeno por dois ângulos: é mãe e educadora de infância. Os dois rapazes mais velhos passaram por avaliações de neuropediatras, nenhuma aconselhando de forma taxativa os medicamentos. Mas os médicos deixaram-na à vontade e B. e T., com 10 anos, começaram a fazer a medicação: o mais velho para o desafio constante da autoridade e a impulsividade; o mais novo para superar as dificuldades provocadas pela dislexia e fazer render melhor o tempo na escola. “Sinto que seria diferente se tivessem tido uma educação pré-escolar mais estruturada, com objectivos e aprendizagens orientadas para a concentração e a memória. Ficam com ferramentas muito melhores para lidar depois com a guerra da escola e os novos desafios”, diz.

Depois de 12 anos numa IPSS, está agora num colégio onde as crianças, aos três anos, já fazem exercícios de leitura e matemática informais e têm um programa para treinar a concentração e a organização. “Tem muito a ver com os estímulos, e medir resultados. Não tem de ser aprender a ler, pode ser aprender marcas de carros. Não digo que a escola deva substituir os pais, mas quem é que hoje tem tempo para chegar a casa e brincar com eles aos legos ou aos jogos de tabuleiro?”

Embora não seja fácil ter uma percepção do número de crianças e jovens medicados em Portugal para problemas do foro do défice de atenção e hiperactividade, as vendas dos três medicamentos estimulantes do sistema nervoso usados nestes distúrbios mostram uma tendência de consumo crescente. Segundo dados da consultora IMS-Health cedidos ao i para as transacções entre armazenistas e farmácias, entre 2007 e 2011 o número de unidades vendidas de Concerta, Rubifen e Ritalina (princípio activo metilfenidato) aumentou 78% para 196 749 embalagens no ano passado. Nos primeiros três meses deste ano foram vendidas cerca de 65 mil unidades destes medicamentos, um aumento ligeiro em relação ao primeiro trimestre de 2011 (61 200).

Embora o fenómeno da “geração ritalina” seja um tópico de discussão comum nos últimos anos, os dados não permitem uma leitura inequívoca. Ontem o tema voltou a estar em cima da mesa depois do alerta do pediatra do desenvolvimento Miguel Palha a propósito da ruptura do stock de um destes medicamentos (o Rubifen) nas farmácias. À Lusa, o especialista diz que, porque a substituição de medicamentos nem sempre é viável e porque as alternativas são mais caras, a ausência de um medicamento está a levar pais e pediatras ao desespero: “As crianças querem estudar e não conseguem. Sem estudo e concentração não conseguem boas notas. Estão a ser empurradas para o insucesso e até para a reprovação”, disse.

DOIS MOVIMENTOS Se para o pediatra Mário Cordeiro o apelo é algo exagerado, por fazer depender o sucesso estritamente da medicação, a psicóloga Maria João Ferro acredita que há dois movimentos que podem explicar tanto o apelo de Miguel Palha como o aumento das vendas de metilfenidato e algum exagero na prescrição: “Acho que temos mais informação e as crianças que, de facto, estão bem diagnosticadas e a fazer medicação podem não progredir se o tratamento for interrompido. Por outro lado, há casos subvalorizados. A minha dúvida é se em Portugal se faz a escada toda de avaliação até à medicação.” Da mesma opinião é Linda Serrão, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Hiperactivas. Embora acredite que o aumento das vendas não reflicta necessariamente os diagnósticos, sublinha que continuam a existir crianças bem e mal avaliadas. “Há profissionais a fazer diagnósticos aos três anos, há crianças a tomar medicação que não precisam, mas também famílias que precisavam de dar medicação aos filhos e não conseguem, por ser cara.”

Maria João Ferro admite que têm aumentado os pedidos de avaliação, tanto de médicos como por iniciativa dos pais. E alerta que, embora haja abordagens comportamentais importantes, há casos em que a medicação é a solução. “Estamos a falar de uma perturbação neurobiológica, com vários gradientes. Se tivermos um bom centro de desenvolvimento, tenho poucas dúvidas de que as coisas sejam mal feitas. Mas pode haver outros profissionais que os medicam por tudo e por nada.” De qualquer forma, sublinha, o aumento das crianças e jovens medicados não é um problema exclusivo do país. “Há investigações que apontam para a hereditariedade, há outras que apontam para que a falta de exercício e intelectualização da sociedade possam aumentar a agitabilidade, mas neste momento não temos uma causa para o défice de atenção e a hiperactividade. Mas são dois problemas que convém não misturar: os casos bem diagnosticados, com alterações neurobiológicas, e os meninos que se metem neste saco.”

Realidades que se misturam na prática. Para Marina, a frustração e os maus resultados dos dois filhos na escola acabam por pesar mais do que um diagnóstico fechado, com apoio dos médicos. Mas assume que é muito um problema de maturidade e de degradação das relações e dos hábitos das crianças, porque o estilo de vida mudou. Na hora da verdade, o comprimido acaba por ser mais fácil e dar mais segurança a pais e crianças.


Fonte: ionline

Liberdade de escolher a escola aumenta o fosso social

O governo prepara-se para em breve dar aos pais a liberdade de escolher a escola dos seus filhos. É um objectivo que a equipa do ministro Nuno Crato quer cumprir antes de terminar o mandato, mas a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) avisa que é preciso muita cautela antes de se tomar qualquer decisão. Atrás dessa liberdade pode vir o perigo de a escola aumentar ainda mais a distância entre os alunos desfavorecidos e os oriundos de classes sociais altas.
O alerta é da especialista em políticas educativas da OCDE, Pauline Musset, que ontem participou no seminário sobre serviço público de educação do Conselho Nacional de Educação, em Lisboa. Após analisar os modelos internacionais, a investigadora assegura que existem “evidências” que demonstram um acentuar da segregação económica, social e étnica: “A experiência de países como Chile, Suíça, Estados Unidos, Bélgica e tantos outros, mostram ser necessário muito cuidado ao definir o esquema de liberdade de escolha da escola, porque pode provocar um grande impacto na segregação dos alunos.”

A diversidade da oferta não torna afinal os encarregados de educação mais livres para decidir sobre a melhor educação dos filhos. E o principal motivo para isso – alerta Pauline Musset – é que nem todos os pais têm as mesmas hipóteses: “São as famílias das classes sociais e económicas mais favorecidas que conseguem ter acesso a uma maior informação sobre as escolas.”

Esse é um dos principais factores para a segregação nas escolas, mas a especialista da OCDE alerta para um fenómeno quase espontâneo por parte dos pais de escolher a escola de acordo com o seu próprio contexto social e cultural: “A comunidade de imigrantes, por exemplo, tende a ir para escolas onde estão mais representados e as famílias socialmente mais favorecidas fazem também o mesmo”, explica.

É uma predisposição dos pais e dos encarregados de educação que o Estado precisa de contrariar. A liberdade de escolher o melhor ensino para os filhos é uma política que conta com uma adesão cada vez maior por parte dos países ocidentais, conta a investigadora. Daí a importância de os governos estarem preparados para garantir a “equidade e a qualidade do ensino”, adverte.

“Estas políticas de liberdade de escolhas estão para ficar e, por isso, é preciso que os estados consigam introduzir mecanismos para controlar ou evitar que as escolas se transformem em espaços pouco ricos em diversidade cultural, social ou económica.”

Transformar as escolas em comunidades abertas passa sobretudo por impor critérios de admissão abrangentes, políticas de discriminação positiva ou ainda incentivos financeiros às famílias para atrair as crianças desfavorecidas ao ensino de qualidade. Estas são as condições que Pauline Musset vê como obrigatórias para fugir à segregação social que os modelos de liberdade de escolha da escola tendem a provocar. Apoiar os pais a fazerem escolhas informadas é igualmente uma tarefa que o Estado deve assegurar, defende.

Fonte: ionline