quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lisboa: Novo espaço para jovens com Asperger


A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA) vai abrir um Centro de Atividades Ocupacionais e uma Residência Autónoma para pessoas com Síndrome de Asperger (SA). O projeto deve estar concluído dentro de um ano.

Arrancaram ontem as obras de requalificação de um edifício do século XVII na Quinta da Granja, em Benfica. Com este novo espaço, “Casa Grande”, a APSA pretende dar formação, emprego e residência a jovens com mais de 16 anos, habilitações literárias a partir do 9º ano de escolaridade e Síndrome de Asperger.

Segundo o site oficial da APSA, “existe um número significativo de portadores de SA que deixa a escola a partir dos 16 anos, surgindo então os primeiros problemas na inserção na vida ativa. Embora a legislação portuguesa contemple a possibilidade de recurso ao emprego protegido, na prática tal não se verifica”.

É por esta razão que nasceu o projeto “Casa Grande”, “um espaço de formação, de treino de competências sociais e de emprego temporário, favorecendo a integração social e profissional, tendo em vista a construção de um projeto de vida futuro, com maior autonomia”.

40.000 portadores do Síndrome em Portugal

Esta doença comporta uma perturbação neurocomportamental, de origem genética, que se manifesta por alterações sobretudo na interação social na comunicação e no comportamento.

Segundo a APSA, “os portadores de Síndrome de Asperger acabam por se isolar e limitar os seus interesses a determinados temas assuntos, atitude que prejudica ainda mais a sua relação com o outro”.

Em Portugal existem cerca de 40.000 portadores de Síndrome de Asperger, afetando maioritariamente os rapazes.

Uma casa com vários objetivos

A “Casa Grande” tem dois objetivos fundamentais. Em primeiro lugar, “Contribuir para a formação e a inserção na vida ativa de portadores de Síndrome de Asperger (SA), promovendo a autonomia e tornando-os responsáveis pela construção do seu projeto de vida”.

Por outro lado, a APSA pretende também “assegurar respostas sociais de apoio aos portadores de SA e famílias, como forma de prevenir processos de exclusão e de favorecer a integração social e as condições para uma vida mais digna”.

Assim, esta casa vai contar com espaços informáticos e de acesso à internet, serviços de reprografia, impressão e multimédia, serviços de lavandaria, costura e cozinha, funcionamento de um quiosque, realização de ações de formação, entre outros.

Para além de poderem estar melhor integrados na sociedade e no mercado de trabalho, estes jovens vão prestar serviços de apoio à comunidade.

Como pode ajudar

Neste momento, o projeto “Casa Grande” está disponível para receber ajuda de quem quiser colaborar. Qualquer pessoa pode apoiar a associação através de cheques (à ordem de Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger), vales de correio e transferências bancárias para o NIB Banco Millennium bcp: 0033 0000 453717070300 5.

Clique AQUI para aceder à página oficial do projecto

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Abandono escolar por motivos financeiros pode aumentar no próximo ano lectivo

Uma forma reincidente de abandono escolar pode acentuar-se no próximo ano letivo em Portugal. Recentemente, a agência Lusa deu conta que "um pouco por todo o País há alunos que querem ajudar os pais ou que deixaram pura e simplesmente de ter dinheiro para estudar". Este é um fenómeno que entre meados dos anos 1980 e 1990 era visto como normal, mas a necessidade de alfabetização de Portugal, já como país da União Europeia, e as políticas dos ministérios e secretarias de Estado de Educação conseguiram mudar grande parte da situação. Hoje, e ainda que não figure entre as estatísticas, por se tratar de um caso que só agora se vem reconhecendo e porque são exemplos pontuais dispersos por todo o País que não influenciam diretamente a taxa de abandono escolar (que tem vindo a diminuir na sua globalidade), esta desistência por motivos financeiros parece ser uma realidade a ter em conta. Há até quem espere um crescimento do número de alunos que desistem de frequentar os estabelecimentos de ensino para ganhar um salário e com isso ajudar os pais na rotina económica. O EDUCARE.PT contactou diversos agentes educativos no sentido de perceber esta mesma realidade. 

Cursos profissionais são os mais afetados 
Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), comprova o abandono escolar de que falamos e diz mesmo que a CNIPE já tem vindo a denunciar esta situação. Mais, Maria José Viseu salienta que " poderá haver mais abandono escolar por tais causas", se a situação económica do País se agravar. "Temos conhecimento de alguns casos pontuais e a situação está a ocorrer com alunos que já tiveram retenções ou dificuldades e por isso foram integrados noutras ofertas formativas, nomeadamente nos cursos CEF ou Profissionais", reforça Maria José Viseu, que acrescenta: "Famílias não são pobres mas precisam desse dinheiro para equilibrar orçamento".
"Esta saída da escola ocorre não porque os pais não tenham dinheiro, até porque estes cursos são de frequência totalmente gratuita, mas sim, porque o dinheiro é necessário no orçamento familiar, muitas vezes fruto do desemprego de um dos progenitores." Os alunos de que fala a presidente da CNIPE saem da escola e vão para trabalhos que, à partida, não exigem mão de obra qualificada, destacando-se na maioria dos casos setores como a construção civil, agricultura, calçado e restauração. E a verdade é que, para combater este reincidente problema, os agentes educativos vão ter que fazer muito mais do que apelar aos jovens para que continuem a estudar, isto se nos detivermos nos eventuais salários destes jovens, que ainda que sejam mais baixos dos que os de um trabalhador qualificado aliviam o apertado orçamento familiar, como aliás conclui Maria José Viseu, não querendo deixar esquecer o assunto para frisar o que a CNIPE pensa: "a situação vai agravar-se no início do próximo ano letivo devido às alterações das ajudas sociais e aí, sim, tememos que o número possa ingressar com famílias que não poderão comprar manuais ou dispor de verbas para pagar a deslocação e a alimentação dos seus filhos". 

Filhos: uma fonte de rendimento 
Citado pela Lusa, Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), lembra que algumas famílias em situação limite veem nos filhos uma fonte de rendimento extra: "Sei que há miúdos que estão a apoiar as famílias", diz. Pessoalmente, Manuel Pereira conhece apenas um caso: "Um aluno meu que frequentava um curso de formação e o pai tirou-o da escola para ir trabalhar", revela. Já o presidente do Conselho de Escolas, Manuel Esperança, diz que há regiões onde o trabalho sazonal tem forte impacto, "nomeadamente no Algarve, onde os alunos deixam a escola para ir trabalhar". O responsável conta à Lusa que o início da época balnear é sinónimo de salas de aulas mais vazias. 

FENPROF diz que não bastam medidas administrativas 
Atualmente, os alunos só precisam de ter o 9.º ano ou 15 anos para poderem abandonar a escola. A partir de setembro, o ensino obrigatório estende-se a 12 anos. E só o tempo vai poder dizer de que forma vai isso refletir-se nos números do abandono escolar. É precisamente sobre este pormenor que Abel Macedo, dirigente sindical do Sindicato de Professores do Norte (SPN) e da FENPROF, centra a questão: "O problema nuclear passa pela dificuldade em envolver os jovens para a frequência da escola, o que é contraproducente com a obrigatoriedade que aí vem para 12 anos." Abel Macedo concorda com o alargamento do ensino obrigatório para 12 anos, mas deixa a pergunta: "Com que condições é que esse alargamento será feito?". Para argumentar depois: "Se por um lado existe o alargamento que faz com que os alunos frequentem a escola até aos 18 anos, a questão é que aos 16 anos, por lei, eles já podem integrar o mercado de trabalho. Por isso não chega tomarem-se medidas administrativas. O problema resolve-se na raiz, ou seja, com um apoio forte do Estado às famílias." 

Reincidência e dados não muito distantes no tempo 
É preciso recuar um pouco para perceber que este não é um fenómeno novo em Portugal, e que mesmo na década de 1990, na reta final da viragem para o século XXI, e já com o país na União Europeia, existiam inúmeros casos de alunos que abandonavam o ensino secundário para ajudarem os pais, sobretudo ao tornarem-se independentes financeiramente. Mais uma vez, a construção civil era o principal setor de «saída» para os alunos que deixavam de frequentar os estabelecimentos de ensino. Segundo dados do PRODEP III, em 1990 a taxa percentual de abandono escolar era de 16% no 6.º ano de escolaridade, tendo diminuído drasticamente para 2% em 1996. No limite, os alunos passaram a abandonar a escola no 10.º ano, ainda em 1996. Segundo os censos de 1991, aproximadamente 85,7% dos portugueses com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos não tinham mais do que o 9.ºano e praticamente 60% não tinham nem ultrapassado o 4.ºano de escolaridade, fazendo com que Portugal fosse considerado o país da OCDE com mais baixo nível de formação geral. De acordo com estes dados referentes ao recenseamento da população, 22% dos jovens do grupo etário dos 15 aos 24 anos tinham abandonado o sistema educativo antes de completarem a escolaridade obrigatória, na altura de apenas seis anos. Os dados obtidos em 1994 demonstravam a existência de uma nova baixa das taxas de abandono, após a introdução da reforma curricular e do novo sistema de avaliação. 
Às portas de novas mudanças na legislação do setor educativo a começar já no próximo ano letivo, e ainda à espera do que possam indicar os censos 2011 nesta matéria de abandono escolar ou mesmo sobre as ofertas das Novas Oportunidades e que resultados efetivos tiveram (precisamente junto daqueles que foram muitos dos que abandonaram a escola nas décadas de 1980 e 1990) este tipo de abandono escolar vai com certeza merecer mais atenção dos agentes educativos.

Fonte: Educare

Como viver com um irmão diferente?


A relação entre irmãos é a relação mais resistente e mais longa entre todas as relações dos seres humanos. É a base da sociabilização e educação dos mais novos, mas também influencia de forma determinante as competências sociais dos mais velhos. 

É uma relação de troca, aprendizagem, imitação, mas também de competição pela atenção dos pais. Quando existe um irmão diferente surgem alterações na estrutura familiar que influenciam esta dinâmica.
Estes encontros têm como objectivo, através de dinâmicas de grupo, criar um espaço de partilha de experiências e dúvidas na relação com irmãos com necessidades educativas especiais, assim como promover estratégias para lidar com a diferença.

Os encontros estão organizados em seis sessões de 90 minutos, com frequência semanal.

Os objectivos gerais dos encontros são:

-Informar sobre as necessidades educativas especiais de cada um dos irmãos;
-Promover estratégias de coping para lidar com as dificuldades dos irmãos;
-Dar a conhecer os diferentes passos para a resolução de problemas;
-Promover estratégias de gestão emocional.

Destinatários:
- Irmãos de crianças com necessidades educativas especiais (Perturbação de Hiperactividade e de Défice de Atenção; Perturbação do Espectro do Autismo; Dificuldades de Aprendizagem; Défice Cognitivo…);
- Idades compreendidas entre os 8 e 12 anos.

Pagamento: 150 Euros

INSCRIÇÕES LIMITADAS A 8 PARTICIPANTES
DATA LIMITE 12 DE OUTUBRO DE 2011
Datas:
INÍCIO: 26 de Outubro de 2011
HORÁRIO: Quartas-feiras, pelas 18h30

Local:
AUDITÓRIO CADIn
Edifício CADIn
Estrada da Malveira – 2750-782 Cascais

Para mais informações contacte:
congressos@cadin.net
Alexandra Carvalho
Telef: 214858241 
Telem: 912540412


Fonte: Cadin

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"As crianças precisam de sentir que são prioridade" - Entrevista a Torey Hayden


O que a levou a transformar as suas experiências em livros?  
Quando escrevo, escrevo para mim, para que as coisas me façam sentido. Ao princípio não pensava publicar qualquer livro. Mas os textos foram aparecendo e acabou por acontecer.  
Hoje é uma escritora de enorme sucesso à escala mundial, contando mais de dez milhões de exemplares vendidos (cem mil só em Portugal). Como explica este feito? Os assuntos que abordo são universais. Todos sabemos o que é não conseguir dizer o que queremos. O que é não conseguir expressar ou pedir o amor de que precisamos. São temas que tocam as pessoas.  
Sempre quis trabalhar com crianças?  
O que eu queria ser era escritora, mas não gostava de inglês, não era nada empenhada nas aulas. Também adorava animais. Como nasci e cresci em [no estado do] Montana ainda trabalhei algum tempo no Parque Natural de Yellowstone, mas a vida não seguiu esse rumo...  
Então?  
As minhas origens são pobres. Para poder estudar tive de arranjar maneira de pagar as contas. O único trabalho em que me pagaram o suficiente para isso foi numa instituição local de apoio a crianças com necessidades especiais. Fiquei apanhada!  
Deve ser complicado pôr a falar uma criança que não quer ser ajudada?  
É uma questão de paciência. Estejamos a falar de crianças sem qualquer deficiência, embora marcadas por algum trauma, ou de crianças autistas, por exemplo, é preciso paciência.  
Paciência?  
Sim. Isto porque é mais importante saber ouvir do que ter pressa em falar, em dar ordens, como os adultos gostam tanto de fazer. O que as crianças querem é perceber que estamos ali para elas, é que somos de confiança, e não alguém que tem pressa em impor seja o que for, em mostrar o que é certo ou errado.  
O que interessa é o momento. É isso?  
Sim. É preciso dar a entender à criança que o tempo é dela, que temos tempo para a ouvir. Que temos todo o tempo do mundo.  
Os problemas das crianças de hoje são diferentes dos vividos pelas gerações anteriores?  
Não. Os problemas são iguais. Há algum tempo li um texto de um monge do século XVIII sobre as crianças e fiquei ainda mais certa de que as pessoas não mudaram tanto como possa parecer.  
Mas hoje os pais estão mais preparados para lidar com as crianças?  
É verdade, os pais estão mais atentos às necessidades das crianças... O problema é que têm menos tempo para elas. As pessoas entregam-se muito às carreiras e isso rouba-lhes tempo, o que é complicado pois as crianças precisam de sentir que são prioridade.  
Quer deixar um conselho aos pais portugueses?  
Mas que grande responsabilidade! Bem, aconselho-os a darem mais tempo aos seus filhos. A tentar percebê-los, compreendê-los. A ter a capacidade de se afastar o suficiente para os ver, para conseguir entender o que querem e como é que eles são enquanto pessoas. Lembro aqui uma história da minha infância...  
Pode contar.  
Quando eu era rapariga, em Montana, era costume os namorados porem moedas na linha do comboio, de forma a que ficassem espalmadas, para depois as oferecerem às namoradas num fio, como se a moeda fosse um medalhão. Havia uma amiga minha que queria que o namorado lhe desse um dólar de prata, mas como ele era pobre isso era muito dinheiro, então ele espalmou um penny (um tostão). A questão é que ele sofreu um acidente e morreu antes de lhe dar a medalha. Ela nunca mais largou aquela medalha. Se ele não tivesse morrido ela teria ficado aborrecida por não ter o dólar de prata, mas assim openny ganhou importância. O problema às vezes é as pessoas darem importância a coisas de nada e esquecerem o que é importante.
Data de publicação: 19/5/2009
Fonte: 24 Horas
Jornalista: João Nascimento

Tempo de Leitura... Torey Hayden - uma referência!

«A cada página revela-se-nos de novo o poder do amor e a resiliência da vida.»
Los Angeles Times

Victoria Lynn Hayden, mais conhecida pelo nome literário Torey Hayden, nasceu em Livingston, no estado norte-americano de Montana, em 1951. Hoje, vive em North Wales, no Reino Unido.
No primeiro ano da faculdade ofereceu-se como voluntária num programa para estudar crianças em idade pré-escolar com distúrbios e dificuldades. Fez um mestrado na área de educação especial, na Montana State University, em 1975, e em 1979 entrou num programa de doutoramento em Psicologia Educacional e Educação Especial na Universidade de Minesota. Trabalhou como auxiliar para alunos com necessidades especiais, como professora dessas mesmas crianças e também como professora do ensino normal. 
Depois da experiência com Sheila, uma rapariga difícil e violenta que aos 6 anos foi sua aluna numa turma de ensino especial, decidiu escrever o seu primeiro livro, A Criança Que Não Queria Falar, que até hoje já vendeu mais de 8 500 000 exemplares só no Reino Unido. Tem nove livros publicados em Portugal pela Presença. O primeiro, A Criança Que Não Queria Falar, foi publicado em 2007 e esteve quase três meses no top das livrarias. 
Na colecção «Grandes Narrativas» da presença poderemos encontrar as seguintes obras:
  • A Criança Que não Queria Falar 2007;
  • A Menina Que nunca Chorava 2007;
  • Os Filhos do Afecto 2007;
  • Uma Criança em Perigo 2008;
  • Filhos do Abandono 2008;
  • A Força dos Afectos 2008;
  • A Prisão do Silêncio 2009;
  • A Luz de Um Novo Dia 2010;
  • Vozes Silenciosas 2011 (as datas indicadas são do lançamento em Portugal).


Agora que o trabalho abrandou voltei a ter tempo e disposição para a leitura. Esta semana agarrei num livro que andava há mais de um mês a pairar na minha mesa de cabeceira e que quero muito ler - Vozes Silenciosas.
Podem-me perguntar a razão de não o ter começado a ler mais cedo?! E eu respondo prontamente. Quando agarro num livro de Torey Hayden entro na história e quero sempre ler mais e mais, não queria por isso correr o risco de não ter tempo para lê-lo. 

Este é o nono livro que leio e sem dúvida que recomendo todos eles, sem excepção. 

Torey tem uma capacidade extraordinária de contar as suas experiências, as suas histórias... É fantástica!

Penso que todos devíamos ler estes livros para nos apercebermos que nem todas as crianças têm a possibilidade de sonhar e que existem pessoas maravilhosas que tentam dar amor e afecto no curto período de tempo que partilham com elas. 
Vale sempre a pena amar e entregar-nos a uma criança, mesmo que saibamos que - à semelhança da raposa e do Principezinho - depois de a cativar somos responsáveis por ela e na separação ambas sofreremos...!


terça-feira, 5 de julho de 2011

Quando é que a EDUCAÇÃO se torna ESPECIAL? por Francisco Lontro

"Aqui há uns tempos recebi um presente especial. Nada de mais para o olhar de qualquer um dos leitores, pois o valor material do presente era praticamente nulo; mas muito para mim, porque foi um presente único, pessoal, que me distinguiu de todas as outras pessoas que não o receberam: por outras palavras, fez-me sentir “especial”!
No meu percurso de estudo e profissional também tenho estado ligado a outras coisas “especiais” (infelizmente num sentido diferente da palavra): desde logo ao ensino “especial”; a equipas “especiais”; e sobretudo a “crianças e jovens especiais”… assim se falava e fala nas escolas, nas universidades, nos livros! 
Quando comecei questionava-me sobre como responder a tanta “especialidade” e sobretudo se teria capacidade para dar resposta (pessoal e técnica) a necessidades e solicitações tão peculiares. Na altura, os meus mestres sabiamente iam-me alertando (direta ou indiretamente) para a necessidade de me focar em primeiro lugar nas relações humanas e esse foi o ponto de partida essencial para a minha evolução. Mas foi só quando comecei a sair do meu gabinete, a organizar grupos de pais, a visitar os meus clientes nas escolas e a liderar reuniões de consultoria com os professores do Ensino Regular, que me apercebi daquela que penso ser a principal razão para se ter que adjetivar de Especial a Educação das crianças e jovens com perfis divergentes de desenvolvimento, comportamento e/ou aprendizagem. É que na grande maioria das vezes as pessoas estão focadas nos problemas, nos sintomas, nas dificuldades; e não nas pessoas, nas crianças e jovens por detrás dessa máscara de características menos boas. Pessoalmente acredito que a Educação Especial não é a Educação das crianças e dos jovens ditos “especiais”. A Educação Especial é a Educação que transmitem os bons Educadores (pais, terapeutas, educadores e professores) a TODAS as crianças e jovens: quando criam disponibilidade para ouvir; quando dão tempo para responder; quando aceitam e partilham ideias; quando chamam a atenção para o que é importante sem impor “o que é importante”; quando motivam e fomentam o empreendedorismo (sobretudo nas pequenas coisas do dia-a-dia); quando valorizam os pequenos e os grandes feitos; quando atribuem responsabilidades e exigem responsabilidade; quando valorizam o espírito de comunidade e de equipa; quando estimulam a vontade do conhecimento e da exploração; quando se zangam nos momentos e nas proporções certas; quando abraçam, piscam o olho, ou simplesmente partilham um sorriso cúmplice no momento certo. Enquanto seres humanos temos o dever de fazer sentir a todos os que estão à nossa volta, que são Especiais: porque são únicos, nas suas virtudes e defeitos; porque dão sentido à nossa vida, ao que somos e ao que fazemos (pessoal e profissionalmente); porque são a nossa esperança num futuro tão bom ou melhor do que o temos no dia de hoje (porque se estivermos sozinhos certamente não o será!). É que a primeira técnica que deveremos aprender enquanto seres em crescimento é a “técnica” da relação. Esse é o verdadeiro desafio. Ensinar uma criança autista a comunicar adequadamente; um jovem delinquente a ser assertivo e a respeitar os outros; ou uma criança disléxica que FACA se escreve F+A_C+A… é fácil; é objetivo e igual no Algarve, nas Ilhas ou no Minho. Fazer os outros sentirem-se especiais
como a pequena Mariana me fez sentir quando me ofereceu aquele presente único de que falava no início do texto
e sentirmo-nos nós próprios especiais é uma experiência única, autêntica, que exige disponibilidade,humildade, vontade de saber mais e o risco… de nos darmos à relação com os outros (de sermos felizes e de nos magoarmos)."


...Um artigo de Francisco Lontro - francisco.lontro@pimpumplay.pt - Psicomotricista 


Quando digo que - para mim a relação com os alunos é a base dos pequenos sucessos que com eles consigo atingir - sou incompreendida por muitos mas, ao ler este artigo, identifiquei-me e percebi que afinal não somos tão poucos a conseguir ver estes SERES TÃO ESPECIAIS!!

Hiperatividade ou o Transtorno por déficit de atenção com hiperatividade (TDAH)

Trata-se da síndrome da conduta, de origem neurobiológica, mais frequente durante a infância.

Estima-se que cerca de 5% da população infanto-juvenil, de 3 a 16 anos, sofre, sendo 3 vezes mais frequente nos homens.

Conhecida por TDAH, é uma patologia que se caracteriza pela existência de três sintomas:
  • hiperatividade (movimento contínuo e superior ao esperado para a idade da criança);
  • falta de atenção;
  • impulsividade.


Um transtorno que se produz devido a uma alteração do sistema nervoso central. É hoje, uma das causas mais frequentes do fracasso escolar e de problemas sociais na idade infantil.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

Tomada de posição da PRÓ-ANDEE relativa ao programa do Governo na área da Educação Especial e Inclusiva

A Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial vem manifestar ao novo Governo e em particular aos responsáveis do Ministério da Educação, a sua reiterada disponibilidade para estabelecer uma relação de mútua cooperação em prol do encontro, desenvolvimento e avaliação das políticas e práticas educacionais relacionadas com os alunos com variados tipos de dificuldades escolares e condições de deficiência. Consideramos parte integrante da nossa missão como Associação de Professores constituir uma interlocução construtiva e útil entre os professores de Educação Especial, outros técnicos e as estruturas do Ministério da Educação.O programa de Governo dado a conhecer à Assembleia da República a 28 de Junho de 2011, levanta-nos desde já algumas preocupações. Talvez algumas destas preocupações se devam ao carácter muito (demasiado?) genérico do documento fruto do curto prazo em que teve de ser apresentado. Sintetizaríamos as nossas preocupações em cinco pontos:1. Não existe no documento qualquer referência à Educação Inclusiva. Lembramos que este aspecto não é de detalhe mas integra-se numa política geral (ref. Preâmbulo do dec-lei 3/2008) de organização do nosso sistema educativo. Para além deste aspecto, cabe salientar que os governos de Portugal têm assinado e ratificado declarações e convenções internacionais que asseguram que as políticas educativas nacionais se devem reger pela promoção da Inclusão. Lembraríamos a este respeito a assinatura e ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (em particular o seu artigo 24º) (ONU 2006) e a Declaração Final da Conferência de Genebra sobre Educação Inclusiva (UNESCO, 2008).2. A única referência que é feita no documento à Educação Especial é “o reforço da rede, dos recursos técnicos e das competências das escolas de referência em educação especial”. A Educação Especial aparece, assim, circunscrita às escolas de referência que, como se sabe, são destinadas a alunos com deficiências sensoriais. A Educação Especial é um sistema de apoios à educação e escolarização de alunos com dificuldades e deficiências muito distintas e que abrange muitos milhares de professores, dezenas de milhares de alunos, e centenas de milhares de membros de famílias destes alunos. Realçar as escolas de referência esquecendo a grande maioria do sistema de Educação Especial, suscita-nos preocupação porque esta omissão poderá sugerir que o novo governo pensa que, com excepção das escolas de referência, tudo está bem e nada há a modificar.3. Têm sido transmitidas posições da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial a variados sectores políticos, profissionais e familiares. Fruto de uma constante e alargada monitorização das políticas em vigor, temos posições que nos permitem dialogar e apresentar propostas de melhoria do actual sistema. O facto de não ser sequer citada a necessidade de se fazerem melhorias no sistema de Educação Especial e Inclusiva preocupa-nos dado que tivemos repetidas manifestações (nomeadamente de responsáveis dos partidos que integram este governo) que era necessário efectuar alterações no actual sistema de Educação Especial.4. O facto de se citar no programa do Governo para a Educação a questão do sucesso/insucesso escolar não é, na nossa perspectiva, uma alternativa credível a falar de Inclusão. Como é sobejamente conhecido e confirmado em inúmeros fóruns internacionais, a Inclusão é muito mais do que erradicação do insucesso escolar. Falar de sucesso escolar em lugar de inclusão é, para nós, preocupante porque parece que se quer transpor para a política uma equivalência falsa em termos científicos.5. Finalmente a ausência de referência à Educação Inclusiva e à Educação Especial leva a crer, sobretudo quando se trata de um novo Governo, que estes assuntos são passados, são antigos e talvez mesmo ultrapassados. A Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, vem confirmar o seu compromisso junto dos professores e junto ao Ministério da Educação que considera que a Educação Inclusiva e Especial não são assuntos do passado. Do passado é a exclusão; a Inclusão é um tema central do presente e do futuro. Não pensar a Educação Inclusiva como um pilar central da organização do sistema educativo teria consequências muito graves na participação, qualificação e sucesso escolar de um grande número de alunos.Não pensar a Educação Inclusiva como um pilar central da organização do sistema educativo teria consequências muito graves na participação, qualificação e sucesso escolar de um grande número de alunos.Consideramos nossa missão alertar desde já o Governo para estas nossas preocupações e manifestar, como sempre, a nossa disponibilidade para um trabalho conjunto construído sob as bases da lealdade e do compromisso com a qualidade educativa para todos.

A Direcção da Pró-Inclusão - ANDEE

Fonte: Incluso